251 Cipriano escreve Unidade da igreja!
Que relação existe entre os membros da igreja e seus líderes? De que maneira a igreja pode disciplinar os membros?
Essas são questões que a igreja deve abordar em qualquer época.
Em meados do século m, as respostas a essas perguntas foram proferidas por Cipriano, que possuíra muita riqueza e nascera pagão em uma família culta, por volta do ano 200.
Quando se tornou cristão, renunciou ao seu estilo de vida, doou seus bens e o dinheiro aos pobres e assumiu o voto de castidade.
Com relação à sua conversão, escreveu: “O segundo nascimento fez de mim um novo homem por meio do Espírito soprado do céu”.
Professor de retórica e orador famoso, o eloquente e devoto Cipriano destacou-se entre os membros da igreja, tornando-se bispo de Cartago por volta do ano 248.
Embora tivesse conhecimento dos clássicos gregos e romanos, Cipriano não era teólogo.
De modo diferente de Tertuliano, a quem admirava, Cipriano era um homem prático que se importava pouco com as disputas teológicas de seus dias.
Ele simplesmente queria a unidade da igreja.
Em uma igreja bem desunida, buscou unir os cristãos por meio da autoridade dos bispos.
O imperador romano Décio perseguira os cristãos, e alguns negaram sua fé.
Décio não procurava fazer mártires, porque sabia que o martírio simplesmente chamava mais a atenção para o cristianismo.
Em vez de matar os cristãos, os torturava, na esperança de que dissessem “César é Senhor”.
Os que se rendiam e proferiam essa declaração passaram a ser conhecidos como lápis.
Os cristãos que se mantinham firmes, denominados “confessores”, normalmente desaprovavam os lápis.
Desse modo, o concilio de bispos estabeleceu regras rígidas em relação à readmissão dos crentes proscritos na igreja.
Diante dessa disciplina, um sacerdote chamado Novato deu início a uma igreja rival que oferecia admissão fácil aos lápis.
Embora não tivesse sofrido por causa de sua fé, Cipriano não conseguia suportar a divisão.
Acreditava que os cristãos dedicados deveriam passar pela penitência para provar sua fé.
A penitência era composta de um período de tristeza verdadeira, depois do qual a pessoa poderia participar novamente da ceia do Senhor.
Depois de o penitente ter “cumprido seu tempo”, ele comparecia diante da congregação vestido de saco e coberto de cinzas para que os bispos pronunciassem o perdão.
Cipriano via isso como um sistema graduado: quanto mais grave fosse o pecado, mais penitência a pessoa precisava cumprir.
Sua idéia tornou-se popular e passou a ser um dos mais poderosos — e, às vezes, mais abusivos — métodos de disciplina da igreja.
No ano 251, Cipriano convocou o Concilio de Cartago e leu Unidade da igreja, seu trabalho principal, que teve profunda influência sobre a história da igreja.
A igreja, conforme argumentou, é uma instituição divina — a noiva de Cristo — e somente pode haver uma noiva.
Somente na igreja as pessoas poderiam alcançar a salvação; fora dela, há somente escuridão e confusão.
Fora da igreja, os sacramentos e os pastores — e até mesmo a Bíblia — não tinham importância.
O indivíduo não poderia viver a vida cristã em contato direto com Deus; ele precisava da igreja.
Uma vez que Cristo estabelecera a igreja sob autoridade de Pedro, a Pedra, Cipriano disse que todos os bispos eram, em certo sentido, sucessores de Pedro e, portanto, deveriam ser obedecidos.
Embora não declarasse que o bispo de Roma estava acima dos outros, Cipriano via o episcopado como especial em razão da conexão de Pedro àquela cidade.
Afirmações de Cipriano como “Fora da igreja não há salvação” e “Ninguém pode ter Deus como Pai se não tiver a igreja como mãe” encorajavam as pessoas a dar aos bispos lugar de grande importância.
O bispo era capaz de determinar quem podia fazer parte da igreja, o que, com efeito, é o mesmo que ter o poder de dizer: “Você está salvo; você não está salvo”.
Em vez de confiar na obra do Espírito Santo por meio da igreja como um todo, Cipriano deixou implícito que o Espírito Santo trabalhava por meio dos bispos.
Os bispos, naturalmente, ganharam poder com a disseminação dessas ideias.
Cipriano também promoveu a idéia de que a missa era o sacrifício do sangue e do corpo de Cristo.
Uma vez que os sacerdotes agiam como representantes de Cristo, oferecendo novamente o sacrifício em todos os cultos de adoração, isso somente serviu para lhes aumentar o poder.
Cipriano morreu durante a perseguição do imperador Valeriano.
Pelo fato de ter se recusado a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, o bispo de Cartago foi decapitado em 258.
A igreja da época de Cipriano, caracterizada pela desunião, apegou-se às suas ideias.
O bispo não poderia ter previsto as consequências dos meios pelos quais procurou manter a igreja unida.
Na Idade Média, alguns homens incrivelmente gananciosos e imorais exerceriam o ofício de bispo, usando-o em benefício próprio, em vez de cuidar dos assuntos espirituais.
A estrutura hierárquica que criou a “união”, também provocou uma enorme divisão entre o clero e os leigos.