terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.!

251 Cipriano escreve Unidade da igreja!


Que relação existe entre os membros da igreja e seus líderes? De que maneira a igreja pode disciplinar os membros? 

Essas são questões que a igreja deve abordar em qualquer época.

Em meados do século m, as respostas a essas perguntas foram proferidas por Cipriano, que possuíra muita riqueza e nascera pagão em uma família culta, por volta do ano 200. 

Quando se tornou cristão, renunciou ao seu estilo de vida, doou seus bens e o dinheiro aos pobres e assumiu o voto de castidade. 

Com relação à sua conversão, escreveu: “O segundo nascimento fez de mim um novo homem por meio do Espírito soprado do céu”.

Professor de retórica e orador famoso, o eloquente e devoto Cipriano destacou-se entre os membros da igreja, tornando-se bispo de Cartago por volta do ano 248.

Embora tivesse conhecimento dos clássicos gregos e romanos, Cipriano não era teólogo. 

De modo diferente de Tertuliano, a quem admirava, Cipriano era um homem prático que se importava pouco com as disputas teológicas de seus dias. 

Ele simplesmente queria a unidade da igreja. 

Em uma igreja bem desunida, buscou unir os cristãos por meio da autoridade dos bispos.

O imperador romano Décio perseguira os cristãos, e alguns negaram sua fé. 

Décio não procurava fazer mártires, porque sabia que o martírio simplesmente chamava mais a atenção para o cristianismo. 

Em vez de matar os cristãos, os torturava, na esperança de que dissessem “César é Senhor”. 

Os que se rendiam e proferiam essa declaração passaram a ser conhecidos como lápis.

Os cristãos que se mantinham firmes, denominados “confessores”, normalmente desaprovavam os lápis. 

Desse modo, o concilio de bispos estabeleceu regras rígidas em relação à readmissão dos crentes proscritos na igreja. 

Diante dessa disciplina, um sacerdote chamado Novato deu início a uma igreja rival que oferecia admissão fácil aos lápis.

Embora não tivesse sofrido por causa de sua fé, Cipriano não conseguia suportar a divisão. 

Acreditava que os cristãos dedicados deveriam passar pela penitência para provar sua fé. 

A penitência era composta de um período de tristeza verdadeira, depois do qual a pessoa poderia participar novamente da ceia do Senhor. 

Depois de o penitente ter “cumprido seu tempo”, ele comparecia diante da congregação vestido de saco e coberto de cinzas para que os bispos pronunciassem o perdão. 

Cipriano via isso como um sistema graduado: quanto mais grave fosse o pecado, mais penitência a pessoa precisava cumprir. 

Sua idéia tornou-se popular e passou a ser um dos mais poderosos — e, às vezes, mais abusivos — métodos de disciplina da igreja.

No ano 251, Cipriano convocou o Concilio de Cartago e leu Unidade da igreja, seu trabalho principal, que teve profunda influência sobre a história da igreja. 

A igreja, conforme argumentou, é uma instituição divina — a noiva de Cristo — e somente pode haver uma noiva. 

Somente na igreja as pessoas poderiam alcançar a salvação; fora dela, há somente escuridão e confusão. 

Fora da igreja, os sacramentos e os pastores — e até mesmo a Bíblia — não tinham importância. 

O indivíduo não poderia viver a vida cristã em contato direto com Deus; ele precisava da igreja. 

Uma vez que Cristo estabelecera a igreja sob autoridade de Pedro, a Pedra, Cipriano disse que todos os bispos eram, em certo sentido, sucessores de Pedro e, portanto, deveriam ser obedecidos. 

Embora não declarasse que o bispo de Roma estava acima dos outros, Cipriano via o episcopado como especial em razão da conexão de Pedro àquela cidade.

Afirmações de Cipriano como “Fora da igreja não há salvação” e “Ninguém pode ter Deus como Pai se não tiver a igreja como mãe” encorajavam as pessoas a dar aos bispos lugar de grande importância. 

O bispo era capaz de determinar quem podia fazer parte da igreja, o que, com efeito, é o mesmo que ter o poder de dizer: “Você está salvo; você não está salvo”. 

Em vez de confiar na obra do Espírito Santo por meio da igreja como um todo, Cipriano deixou implícito que o Espírito Santo trabalhava por meio dos bispos.

Os bispos, naturalmente, ganharam poder com a disseminação dessas ideias. 

Cipriano também promoveu a idéia de que a missa era o sacrifício do sangue e do corpo de Cristo. 

Uma vez que os sacerdotes agiam como representantes de Cristo, oferecendo novamente o sacrifício em todos os cultos de adoração, isso somente serviu para lhes aumentar o poder.

Cipriano morreu durante a perseguição do imperador Valeriano. 

Pelo fato de ter se recusado a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, o bispo de Cartago foi decapitado em 258.

A igreja da época de Cipriano, caracterizada pela desunião, apegou-se às suas ideias. 

O bispo não poderia ter previsto as consequências dos meios pelos quais procurou manter a igreja unida. 

Na Idade Média, alguns homens incrivelmente gananciosos e imorais exerceriam o ofício de bispo, usando-o em benefício próprio, em vez de cuidar dos assuntos espirituais. 

A estrutura hierárquica que criou a “união”, também provocou uma enorme divisão entre o clero e os leigos. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

C.156 O martírio de Policarpo


O dia estava quente. As autoridades de Esmirna procuravam Policarpo, o respeitado bispo da cidade. 

Elas já haviam levado outros cristãos à morte na arena. Agora, uma multidão exigia a morte do líder.

Policarpo saíra da cidade e se escondera na propriedade de alguns amigos, no interior. 

Quando os soldados entraram, ele fugiu para outra propriedade. 

Embora o idoso bispo não tivesse medo da morte e quisesse permanecer na cidade, seus amigos insistiram em que se escondesse, talvez com temor de que sua morte pudesse desmoralizar a igreja. 

Se esse era o caso, estavam completamente equivocados.

Quando os soldados alcançaram a primeira fazenda, torturaram um menino escravo para que revelasse o paradeiro de Policarpo. 

Assim, apressaram-se, bem armados, para prender o bispo. Embora tivesse tempo para escapar, Policarpo se recusou a agir assim. 

“Que a vontade de Deus seja feita”, decidiu. 

Em vez de fugir, deu as boas-vindas aos seus captores, ofereceu-lhes comida e pediu permissão para passar um momento sozinho em oração. 

Policarpo orou durante duas horas.

Alguns dos que ali estavam com a finalidade de prendê-lo pareciam arrependidos por prender um homem tão simpático. 

No caminho de volta a Esmirna, o chefe da guarda tentou argumentar com Policarpo: “Que problema há em dizer ‘César é senhor’ e acender incenso?”.

Policarpo calmamente disse que não faria isso.

As autoridades romanas desenvolveram a idéia de que o espírito (ou o “gênio”) do imperador (César) era divino. 

A maioria dos romanos, por causa de seu panteão, não tinha problema em prestar culto ao imperador, pois entendia a situação como questão de lealdade nacional. 

Porém, os cristãos sabiam que isso era idolatria.

Pelo fato de os cristãos se recusarem a adorar o imperador ou os outros deuses de Roma e adorar Cristo de maneira silenciosa e secreta em seus lares, a maioria das pessoas achava que eles não tinham fé. 

“Fora com os ateus!”, gritavam os habitantes de Esmirna, enquanto buscavam os cristãos para prendê-los. 

Como sabiam apenas que os cristãos não participavam dos muitos festivais pagãos e não ofereciam os sacrifícios comuns, a multidão atacava o grupo considerado ímpio e sem pátria.

Então, Policarpo entrou em uma arena cheia de pessoas enfurecidas. 

O pro cônsul romano parecia respeitar a idade do bispo. 

Como Pilatos, queria evitar uma cena horrível, se fosse possível. 

Se Policarpo apenas oferecesse um sacrifício, todos poderiam ir para casa.

-Respeito sua idade, velho homem — implorou o pro cônsul.

— Jure pela felicidade de César. Mude de idéia. Diga “Fora com os ateus!”.

O pro cônsul obviamente queria que Policarpo salvasse a vida ao separar-se daqueles “ateus”, os cristãos. 

Ele, porém, simplesmente olhou para a multidão zombadora, levantou a mão na direção deles e disse:

— Fora com os ateus!

O pro cônsul tentou outra vez:

— Faça o juramento e eu o libertarei. Amaldiçoe Cristo!

O bispo se manteve firme.

— Por 86 anos servi a Cristo, e ele nunca me fez qualquer mal. Como poderia blasfemar contra meu Rei, que me salvou?

A tradição diz que Policarpo estudou com o apóstolo João. 

Se isso foi realmente verdade, ele era, provavelmente, o último elo vivo com a igreja apostólica. 

Cerca de quarenta anos antes, quando Policarpo começou seu ministério como bispo, Inácio, um dos pais da igreja, escreveu a ele uma carta especial. 

Policarpo escreveu, de próprio punho, uma carta aos filipenses. 

Embora não seja especialmente brilhante e original, essa carta fala sobre as verdades que ele aprendeu com seus mestres. 

Policarpo não fazia exegese de textos do Antigo Testamento, como os estudiosos cristãos posteriores, mas citava os apóstolos e os outros líderes da igreja para exortar os filipenses.

Cerca de um ano antes do martírio, Policarpo foi a Roma para acertar algumas diferenças quanto à data da Páscoa com o bispo daquela cidade. 

Uma história diz que, nessa cidade, ele debateu com o herege Marcão, a quem chamava “o primogênito de Satanás”. 

Diz-se que diversos seguidores de Marcio se converteram com sua exposição dos ensinamentos apostólicos.

Este era o papel de Policarpo: ser uma testemunha fiel. 

Líderes posteriores apresentariam saídas criativas diante de situações em constante mutação, mas a era de Policarpo requeria apenas fidelidade. 

Ε ele foi fiel até a morte.

Na arena, a argumentação continuava entre o bispo e o pro cônsul. 

Em certo momento, Policarpo admoestou seu inquisidor: “Se você […] finge que não sabe quem sou, ouça bem: sou um cristão. 

Se você quer aprender sobre o cristianismo, separe um dia e me conceda uma audiência”. 

O pro cônsul ameaçou jogá-lo às feras.

Policarpo disse: “Pois chame-as. 

Se isto fosse uma mudança do mal para o bem, eu a consideraria, mas não posso admitir uma mudança do melhor para o pior”.

Ameaçado pelo fogo, Policarpo reagiu: “Seu fogo poderá queimar por uma hora, mas depois se extinguirá; mas o fogo do julgamento por vir é eterno”.

Por fim, anunciou-se que Policarpo não se retrataria. 

O povo de Esmirna gritou: “Este é o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nossos deuses, que ensina o povo a não sacrificar e a não adorar!”.

O pro cônsul ordenou que o bispo fosse queimado.

Policarpo foi amarrado a uma estaca, e o fogo foi ateado. 

Contudo, de acordo com testemunhas oculares, seu corpo não se consumia. 

Conforme o relato dessas testemunhas, ele “estava lá no meio, não como carne em chamas, mas como um pão sendo assado ou como o ouro e a prata sendo refinados em uma fornalha. 

Sentimos o suave aroma, semelhante ao de incenso, ou ao de outra especiaria preciosa”.

Quando um dos executores o perfurou com uma lança, o sangue que jorrou apagou o fogo.

Este relato foi repassado às congregações por todo o império. 

A igreja valorizou esses relatos e começou a celebrar a vida e a morte de seus mártires, chegando a coletar seus ossos e outras relíquias. 

Em 23 de fevereiro, todos os anos, comemoravam o “dia do nascimento” de Policarpo no Reino celestial.

Nos 150 anos seguintes, à medida que centenas de outros mártires caminharam fielmente para a morte, muitos foram fortalecidos pelos relatos do testemunho fiel do bispo de Esmirna.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

205 Orígenes começa a escrever 

Em seus primeiros dias, o cristianismo foi criticado como uma religião de pobres e iletrados, pois, na verdade, muitos dos fiéis vinham das classes mais humildes. 

Como Paulo escreveu, na igreja “poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento” (I Co 1.26).

No século ni, porém, o maior intelectual da época era cristão. Pagãos, hereges e cristãos admiravam Orígenes. 

Sua instrução e conhecimento vastos contribuíram muito para o futuro da cultura cristã.

Orígenes nasceu em Alexandria, por volta do ano 185, filho de pais cristãos devotos. 

Por volta do ano 201, seu pai, Leónidas, foi preso durante a perseguição de Septénio Severo. 

Orígenes escreveu ao pai, que estava na prisão, e o encorajou a não negar a Cristo por amor à família. 

Embora Orígenes quisesse se entregar às autoridades e sofrer o martírio com pai, sua mãe escondeu suas roupas e impediu esse ato zeloso, mas tolo.

Depois do martírio de Leónidas, sua propriedade foi confiscada e sua viúva foi deixada com sete filhos. 

Orígenes tomou as providências para sustentá-los, ensinando literatura grega e copiando manuscritos. 

Uma vez que muitos dos estudiosos mais idosos fugiram para Alexandria na época da perseguição, a escola catequética cristã tinha grande necessidade de professores. 

Aos dezoito anos, Orígenes tornou-se presidente da escola

e deu início à sua longa carreira de professor, estudioso e escritor.

Praticava a ascese, passava grande parte das noites em estudo e em oração, dormia no chão duro, nos poucos momentos em que realmente conciliava o sono. 

Seguia o mandamento de Jesus, pois tinha apenas uma capa e não possuía sapatos. 

Chegou até mesmo a seguir literalmente Mateus 19.12: ele se castrou como defesa contra as tentações carnais. 

O maior desejo de Orígenes era ser fiel à igreja e honrar o nome de Cristo.

Como escritor extremamente prolífico, Orígenes foi capaz de manter sete secretários ocupados com seus ditados. 

Ele produziu cerca de duas mil obras, incluindo comentários sobre quase todos os livros da Bíblia, além de centenas de homílias. 

A obra Héxapla foi uma façanha da crítica textual, pois tentou encontrar a melhor versão grega do Antigo Testamento. 

Em seis colunas paralelas, era possível observar o A.T. em hebraico, uma transliteração para o grego, três traduções em grego e a Septuaginta. 

A obra Contra Celso foi um dos mais importantes trabalhos apologéticos do cristianismo, pois o defendeu dos ataques pagãos. 

A obra De principiis [Sobre os princípios] foi a primeira tentativa de criar uma teologia sistemática. 

Nela, Orígenes examina cuidadosamente as crenças cristãs referentes a Deus, a Cristo e ao Espírito Santo, bem como assuntos referentes à Criação, à alma, ao livre-arbítrio, à salvação e às Escrituras.

Orígenes foi, em grande parte, responsável pelo estabelecimento da interpretação alegórica das Escrituras, que dominaria a Idade Média. 

Acreditava que em todo o texto existiam três níveis de significado: o literal, o moral (que servia para edificar a alma) e o alegórico ou espiritual, considerado oculto é o mais importante para a fé cristã. 

O próprio Orígenes desprezou o significado literal e o histórico-gramatical do texto, enfatizando o significado alegórico mais profundo.

Orígenes tentou relacionar o cristianismo à ciência e à filosofia de seus dias. 

Acreditava que a filosofia grega era a preparação para a compreensão das Escrituras e usava a analogia, mais tarde adotada por Agostinho, de que os cristãos “despojaram os egípcios”, quando usaram a riqueza do conhecimento pagão na causa cristã (Êx 12. 35,36).

Ao aceitar os ensinamentos da filosofia grega, Orígenes adotou muitas ideias platônicas, estranhas ao cristianismo ortodoxo. 

A maioria de seus erros era causada pela pressuposição grega de que a matéria e o mundo material são intrinsecamente maus. 

Acreditava na existência da alma antes do nascimento e ensinava que a posição de alguém no mundo era consequência de sua conduta em um estado preexistente. 

Negava a ressurreição física e advogava que, no final de tudo, Deus salvaria todos os homens e todos os anjos. 

Uma vez que Deus não podia criar o mundo material sem entrar em contato com a matéria básica, o Filho foi eternamente gerado pelo Pai que, por sua vez, criou o mundo eterno. 

Segundo ele, foi somente a humanidade de Jesus que morreu na cruz, como pagamento feito ao Diabo em resgate pelo mundo.

Devido a equívocos como esses, o bispo Demétrio de Alexandria convocou o concilio que excomungou Orígenes. 

Embora Roma e a igreja ocidental tivessem aceitado a excomunhão, a igreja da Palestina e a maior parte do Oriente não a aceitaram. 

Eles continuaram consultando Orígenes devido à sabedoria, à erudição e ao conhecimento que ele possuía.

Durante a perseguição promovida por Décio, Orígenes foi preso, torturado e condenado a morrer em uma estaca. 

Somente a morte do imperador impediu que a sentença fosse executada. 

Com a saúde debilitada devido à provação, Orígenes morreu por volta do ano 251. 

Ele fez mais do que qualquer outra pessoa para promover a causa da erudição cristã e para fazer com que a igreja fosse respeitada aos olhos do mundo. 

Os pais da igreja posteriores a ele, tanto do Oriente quanto do Ocidente, sentiram sua influência. 

A diversidade de seu pensamento e de seus escritos lhe rendeu a reputação de ser o pai da ortodoxia, bem como das heresias.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo!.

Irineu se torna bispo de Lião (177)

Até mesmo quanto às heresias, “não há nada novo debaixo do sol” (Ec 1.9). 

Os falsos ensinamentos que surgiram dentro e em torno da igreja permanecem basicamente os mesmos.

Em vez de se voltar para a obra expiatória de Cristo, muitos buscam salvar a si mesmos pela descoberta de algum conhecimento secreto. 

Isso surgiu na igreja primitiva por meio de um conjunto de heresias chamado de gnosticismo (gnosis é uma palavra grega que significa “conhecimento”). 

Aparentemente, já existia uma forma de gnosticismo antes da fundação da igreja. 

João desfechou um golpe contra esse falso ensinamento, quando escreveu sua primeira carta. 
Contudo, essa doutrina ainda continuou a exercer influência no século o.

Sabemos pouco sobre Irineu, o homem que se opôs ao gnosticismo na segunda metade do século n. Nasceu, provavelmente, na Asia Menor, por volta do ano 125. 

Em virtude do intenso comércio entre a Ásia Menor e a Gália, os cristãos puderam levar a fé àquela região, onde foi estabelecida uma igreja vigorosa em sua cidade principal, Lião.

Enquanto serviu como presbítero em Lião, Irineu viveu de acordo com seu nome, que significa “pacífico”, viajando até Roma para pedir indulgência aos montanhistas da Ásia Menor. 

Durante essa missão, a perseguição cresceu em Lião, e o bispo daquela cidade foi martirizado.

Irineu o sucedeu como bispo em seu lugar e descobriu que o gnosticismo conseguira algumas conversões na Gália. 

Essa doutrina se espalhou facilmente, porque os gnósticos usavam termos cristãos, embora tivessem interpretações radicalmente diferentes dessas expressões. 

A fusão dos termos cristãos com os conceitos da filosofia grega e das religiões asiáticas era atraente aos que queriam acreditar que poderiam salvar a si mesmos, sem depender da graça do Pai todo-poderoso.

Irineu estudou as várias formas de gnosticismo. Embora variassem grandemente, os ensinamentos mais comuns eram os seguintes: o mundo físico é mau; o mundo foi criado e é governado por poderes angelicais, e não por Deus; Deus está distante e não está realmente ligado a este mundo; a salvação pode ser alcançada pelo aprendizado de alguns ensinamentos secretos especiais. 

As pessoas espirituais — ou seja, os próprios seguidores do gnosticismo — são superiores aos cristãos comuns. 

Os mestres do gnosticismo sustentavam essas idéias valendo-se dos evangelhos gnósticos volumes que normalmente tomavam emprestado o nome de um apóstolo e retratavam Jesus Cristo ensinando doutrinas gnósticas.

Quando o bispo de Lião finalmente tomou conhecimento dessa heresia, escreveu a obra denominada Contra as heresias, um enorme trabalho no qual buscava revelar a tolice do “falso conhecimento”. 

Valendo-se tanto do Antigo Testamento quanto do Novo, Irineu mostrou que o Deus amoroso criou o mundo, que se corrompeu por causa do do pecado humano. 

Adão, o primeiro homem inocente, tornou-se pecador ao ceder à tentação. 

Porém, sua queda foi desfeita — rematada — pela obra do segundo homem inocente, Cristo, o novo Adão. 

O corpo não é mau, e, no último dia, o corpo e a alma dos crentes ressuscitarão; viverão para sempre com Deus.

Irineu compreendia que o gnosticismo se valia do desejo humano de conhecer algo que os outros não conheciam. 

Com relação aos gnósticos, escreveu:
 
“Tão logo um homem é convencido a aceitar a forma da salvação deles [dos gnósticos], se torna tão orgulhoso com o conceito e a importância de si mesmo, que passa a andar como se fosse um pavão”. 

Porém, os cristãos deveriam humildemente aceitar a graça de Deus, e não se envolver em exercícios intelectuais que levavam à vaidade.

Durante toda a sua vida, Irineu recordou com alegria o fato de ter sido próximo de Policarpo, que conhecera pessoalmente o apóstolo João. 

Desse modo, talvez não seja surpreendente o fato de Irineu apelar para a autoridade dos apóstolos, quando desaprovou as afirmações do gnosticismo. 

O bispo destacou que os apóstolos ensinaram em público, e não guardaram segredo sobre nenhum dos ensinamentos que receberam do Mestre. 

Por todo o império, as igrejas concordavam sobre certos ensinamentos que vieram dos apóstolos de Cristo e que apenas esses ensinamentos formavam os fundamentos de sua crença. 

Ao declarar que os bispos, os sucessores dos apóstolos, eram os guardiães da fé, Irineu aumentou o respeito dispensado aos bispos.

Na obra Contra as heresias, Irineu apresentou o padrão para a teologia da igreja: toda a verdade que precisamos está na Bíblia. 

Ele também provou ser o maior teólogo desde o apóstolo Paulo. 

Suas discussões amplamente divulgadas foram um golpe mortal para o gnosticismo em sua época.