domingo, 15 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1093 Anselmo é escolhido arcebispo de Cantuária

Um dos maiores teólogos da Inglaterra nasceu na Itália e brigou com dois reis.

Anselmo nasceu nos Alpes italianos por volta de 1033. 


Ele não realizou o desejo de seu pai de entrar para a política, optando por viajar pela Europa durante vários anos. 

Como muitos jovens brilhantes e inquietos de seus dias, entrou para um mosteiro. 

Em Bec, na Normandia, sob a supervisão do notável professor Lanfranc, Anselmo daria início a uma carreira notável.

Em 1066, o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, invadiu a Inglaterra. 

Nos anos que se seguiram, o novo rei trouxe muitos professores e clérigos normandos para a Inglaterra. 

Entre eles Lanfranc, que se tornou arcebispo de Cantuária, em 1070. Anselmo assumiu o lugar de seu mentor como abade de Bec.

Em 1093, Guilherme n, filho do conquistador, escolheu Anselmo para ser o arcebispo de Cantuária, mas esse movimento não melhorou as relações da igreja com o Estado. 

O rei, obstinado e agressivo, desejava o direito de indicar os clérigos de todo o reino. 

Anselmo, homem humilde que queria proteger a igreja, suas terras e seus bens das mãos de reis gananciosos, recusou-se a aceitar isso. 

Durante algum tempo, o arcebispo viveu exilado na Itália. 

Guilherme confiscou todos os recursos da igreja que iam para Cantuária.

Quando Guilherme morreu, seu irmão Henrique I ο sucedeu. 

Embora ele tenha pedido a Anselmo que retornasse, as batalhas entre a igreja e o Estado não terminaram. Henrique era tão mau quanto seu irmão, e Anselmo foi mais uma vez para o exílio.

Anselmo, durante o tempo que passou na Inglaterra, mostrou ser um pastor compassivo e administrador capaz. 

Quando foi exilado para o continente, ele se revelou um grande teólogo, pois foi ali que compôs sua maior obra.

Em Por que Deus se fez homem?, Anselmo lançou uma teoria sobre a maneira pela qual a morte de Cristo na cruz reconcilia o homem com Deus. 

Anselmo disse que Deus é o Senhor do cosmo, um ser cuja honra é ofendida pelo pecado humano. 

Embora deseje perdoar o homem com o objetivo de manter a ordem moral no universo, Deus não pode simplesmente “negligenciar” o pecado. 

Alguma satisfação deve ser dada, o que seja equivalente à ofensa. Uma vez que o pecado é coisa do homem, a justificação deve ser dada pelo homem. 

Contudo, o homem não pode atender à exigência de maneira adequada. Desse modo, Deus se torna homem, e aquele que cumpre as exigências é tanto Deus quanto homem: Cristo.

A idéia de Anselmo ficou conhecida como a teoria da satisfação da expiação e, provavelmente, ainda é a explicação teológica mais usada da obra expiatória de Cristo. 

Ela possui fontes bíblicas como “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens…” (2Co 5.19).

Anselmo foi um dos componentes do movimento chamado escolasticismo, formado por estudiosos cristãos que tentavam colocar a lógica a serviço da fé. 

Embora Anselmo conhecesse a Bíblia muito bem, estava disposto a testar o poder da lógica humana e, até mesmo, a colocar de lado a fé baseada na Bíblia para tentar provar suas doutrinas. 

Porém, a fé sempre foi fundamental. 

Na obra Proslogium, originariamente intitulada Fides quaerens intellectum [Fé que busca compreensão], 

Anselmo faz a famosa afirmação: “Creio para poder entender”. 

Ao declarar isso, ele queria dizer que todos os que buscam a verdade devem primeiramente ter fé, e não o oposto. 

Ele lançou o argumento ontológico para que acreditemos em Deus. 

De maneira resumida, disse que a razão humana exige a idéia de um Ser perfeito e que, portanto, esse Ser deve existir. 

Essa idéia fascina os filósofos e os teólogos de todas as eras.

sábado, 14 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1054 O cisma entre Oriente e Ocidente

As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.


Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. 

As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. 

No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. 

Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.

As teologías eram diferentes. 

O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. 

O Ocidente usava a palavra latina filíoque “e do Filho” no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito “procede do Pai”. 

Para o Oriente, essa adição era heresia.

Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. 

Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. 

Em 1049, Leão IX tornou-se papa. 

Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. 

O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. 

Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. 
O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.

Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. 

Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. 

As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. 

O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.

Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam “na igreja una, santa, católica e apostólica”. 

Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. 

Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.

Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. 

A curta “reunião” de 1204 aumentou a hostilidade. 

Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. 

O cristianismo unido parecia impossível.

Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. 

Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. 

Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1054 O cisma entre Oriente e Ocidente

As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.

Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. 

As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. 

No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. 

Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.

As teologias eram diferentes. 

O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. 

O Ocidente usava a palavra latina filíoque “e do Filho” no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito “procede do Pai”. 

Para o Oriente, essa adição era heresia.

Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. 

Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. 

Em 1049, Leão IX tornou-se papa. 

Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. 

O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. 

Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. 
O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.

Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. 

Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. 

As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. 

O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.

Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam “na igreja una, santa, católica e apostólica”. 

Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. 

Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.

Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. 

A curta “reunião” de 1204 aumentou a hostilidade. 

Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. 

O cristianismo unido parecia impossível.

Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. 

Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. 

Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

988 Conversão de Vladimir, príncipe da Rússia

A conversão de um governante pagão, amante do divertimento, efetivamente levou o cristianismo à Rússia. 

Embora o cristianismo já tivesse alcançado a Rússia na primeira parte do século X, não foi aceito de maneira geral. 

Em 957, Olga, a princesa viúva de Kiev, foi batizada. 

Ela pediu a Oto I o rei germânico, que enviasse missionários a seu país, mas eles provavelmente tiveram pouco sucesso, pois a religião paga prevaleceu.

Vladimir, neto de Olga, estava entre aqueles pagãos. 

Ele construiu diversos templos, atraindo fama para si mesmo em função de sua crueldade e de sua falta de lealdade. 

Ele tinha oitocentas concubinas e cinco esposas e, quando não estava lutando em alguma guerra, caçava e festejava. 

Ninguém o escolheria como o homem que levaria o cristianismo ao seu povo.

Como a maioria dos governantes, Vladimir queria manter seu povo alegre. 

Ele percebeu que poderia fazer isso unificando-os pela religião. 

Desse modo, conta-se que enviou diversos homens para examinar as principais religiões. 

Com suas regras de alimentação restritivas, nem o islã nem o judaísmo agradaram ao príncipe, de modo que ele teve de escolher entre o cristianismo romano e a igreja do Oriente.

Depois de comparecer a um culto na Igreja da Santa Verdade, em Cons-tantinopla, os homens de Vladimir apresentaram o seguinte relato: “Não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, pois certamente não existe tamanho esplendor ou beleza em qualquer lugar aqui na terra. 

Não somos capazes de descrever o que vimos. Sabemos apenas que Deus habita entre aqueles homens e que seu culto ultrapassa em muito a adoração de todos os outros lugares. 

É impossível esquecer aquela beleza”.

De acordo com a história, devido a essa beleza, Vladimir optou pela ortodoxia. 

É verdade que essa era a religião da nação vizinha, mais poderosa, rica e civilizada: o Império Bizantino. 

Quando a irmã do imperador bizantino, Basilio, foi-lhe oferecida em casamento, Vladimir aceitou, o que ajudou ainda mais a consolidar sua posição junto ao vizinho.

Em 988, Vladimir foi batizado e, um ano depois, casou-se com Ana, mas nenhuma das duas atitudes foi uma mostra de que ele estava se submetendo ao Império Bizantino.

A escolha de Vladimir deixa claro que a igreja russa se concentrava no culto de adoração. 

A ortodoxia oriental sempre teve um apelo estético. 

O nome da religião escolhida pelo príncipe, pravoslavie, significava “verdadeira adoração” ou “a glória apropriada”. Para a mente russa, o cristianismo significa liturgia.

Depois do batismo de Vladimir, sem muitas dificuldades, o povo colocou de lado as velhas religiões. 

Embora a Rússia não tenha se tornado uma nação cristã da noite para o dia, as coisas começaram a mudar. 

Em um primeiro momento, as conversões em massa não aconteceram, mas, com a ajuda dos monges — sempre uma força de primeira grandeza na ortodoxia oriental —, a nova religião começou a fazer com que sua influência fosse sentida.

Graças a Metódio e Cirilo, a Rússia tinha uma liturgia cristã em sua própria língua (o idioma eslavônio). 

As pessoas podiam participar e entender maravilhosa liturgia nas belíssimas igrejas construídas por Vladimir e seus sucessores.

A conversão de Vladimir claramente influenciou seu estilo de vida. 

Ao se casar com Ana, deixou as outras cinco esposas. 

Destruiu também os ídolos, protegeu os oprimidos, criou escolas e igrejas e viveu em paz com as nações vizinhas. 

Em seu leito de morte, doou todas as suas posses aos pobres. A igreja grega terminou por canonizá-lo.