terça-feira, 17 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1095 O papa Urbano II lança a primeira Cruzada

Embora a maior parte da Europa do século XI fosse nominalmente cristã — todas as crianças eram batizadas; existia uma estrutura eclesiástica que que colocava cada cristão sob cuidado pastoral; os casamentos aconteciam na igreja; os que morriam recebiam os últimos ritos da igreja —, a Europa não se parecia muito com o Reino de Deus. 


Existiam conflitos constantes entre príncipes cristãos, e as guerras dos nobres desejos por mais terras causavam dificuldades às pessoas comuns.

A partir de 1088, um francês, que passou a ser conhecido por Urbano II, assumiu o cargo máximo da igreja. 

Seu papado foi marcado por disputas com o rei alemão Henrique IV — uma continuação, infrutífera, das políticas reformista de Gregorio VII novo papa não estava plenamente disposto a continuar essa batalha. 

Em vez disso, queria unir toda a cristandade. 

Quando o imperador Aleixo de Constantinopla apelou ao papa, pedindo ajuda para lutar contra os turcos muçulmanos, Urbano percebeu que um inimigo comum poderia ajudar a alcançar seu objetivo.

Pouco importava que o papa tivesse excomungado o patriarca de Constantinopla e que os católicos e os ortodoxos do Oriente não fizessem parte de uma única igreja. 

Urbano buscava obter o controle sobre o Oriente, enquanto encontrava distração para os príncipes briguentos do Ocidente.

Em 1095, Urbano convocou o Concilio de Clermont. 

Ali, ele pregou um sermão inspirador: “Uma horrível notícia está sendo propagada […] uma raça amaldiçoada e totalmente alienada de Deus […] invadiu as terras dos cristãos e os expulsou por meio da espada, da pilhagem e do fogo”. 

Ele fez o seguinte apelo: “Devemos retomar as terras dessa raça ímpia, subjugando-a a nós”.

“Deus vultl Deus vult!” [“Deus deseja isso!”], gritava a multidão. 

Ε esse se tornou o grito de guerra das Cruzadas.

A medida que os representantes do papa atravessavam a Europa, recrutando cavaleiros para ir à Palestina, recebiam entusiásticas reações dos guerreiros franceses e dos italianos. 

Muitos foram motivados por objetivos religiosos, mas, sem dúvida, outros se engajaram em função do ganho econômico e da aventura de recapturar os locais de peregrinação da Palestina, que haviam caído nas mãos dos muçulmanos.

Ε provável que os guerreiros se sentissem virtuosos ao assassinar um inimigo não-cristão. 

A matança dos infiéis que tomaram a Terra Santa cristã poderia parecer um ato de serviço a Deus.

Para encorajar as Cruzadas, Urbano e os outros papas, os que vieram depois dele, enfatizaram os “benefícios” espirituais da guerra contra os muçulmanos. 

Arrancando uma página do Alcorão, Urbano assegurou que os guerreiros que experimentassem essa penitência entrariam no céu diretamente — ou, pelo menos, teriam uma redução no tempo que passariam no purgatório.

Em seu caminho para a Terra Santa, os cruzados pararam em Constan-tinopla. 

O tempo que passaram ali mostrou uma coisa: a união entre o Oriente e o Ocidente continuava improvável. 

O imperador via os guerreiros vestidos de malhas de ferro como ameaça a seu trono. 

Quando os cruzados descobriram que Aleixo fizera tratados com os turcos, sentiram que esse “traidor” negara a primeira parte de sua missão: expulsar os turcos de Constantinopla.

Com provisões fornecidas pelo imperador, o exército se encaminhou para o sul e para o leste, capturando as cidades de Antioquia e Jerusalém. 

Depois da vitória na Terra Santa, houve um banho de sangue. “Não faça prisioneiro algum”, era a tática que os cruzados usavam. 

Um observador apaixonado escreveu que os soldados “cavalgavam com sangue chegando até a altura de suas rédeas”.

Depois de estabelecer o Reino Latino de Jerusalém e indicar Godofredo de Bouillon como seu governador, eles saíram da ofensiva para a defensiva. 

Começaram a construir novos castelos, alguns dos quais permanecem até hoje.

Nos anos que se seguiram, novas ordens religiosas com características militares e monásticas, foram formadas. 

A mais famosa foi a dos Cavaleiros Templarios e a dos Cavaleiros Hospitalarios. 

Embora essas ordens tivessem sido criadas originariamente para ajudar os cruzados, elas se tornaram organizações militares poderosas que agiam de maneira independente.

A primeira Cruzada seria a mais bem-sucedida. 

Embora esses esforços militares tivessem sido dramáticos e pitorescos, não conseguiram manter os muçulmanos à distância. 

Em 1291, as tropas muçulmanas capturaram a cidade de Acre, pondo um fim definitivo às Cruzadas.

Em muitos aspectos, as Cruzadas deixaram um legado negativo. 
Elas ameaçaram as relações entre as igrejas do Ocidente e do Oriente, e a brutalidade dos cruzados somente contribuiu para que seus inimigos se tornassem ainda mais fanáticos. 

Além disso, as lições que os cruzados aprenderam nos campos de batalha tornaram-se parte das estratégias para guerras futuras, promovidas contra outros cristãos.

A resposta ao chamado de Urbano incrementou grandemente o poder do papado. 

Ele conseguiu reunir um grande número de soldados que estavam dispostos a morrer por sua fé, um feito que nenhum príncipe poderia ignorar.

A luta pelo poder entre a igreja e o Estado ainda não havia acabado.

domingo, 15 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1093 Anselmo é escolhido arcebispo de Cantuária

Um dos maiores teólogos da Inglaterra nasceu na Itália e brigou com dois reis.

Anselmo nasceu nos Alpes italianos por volta de 1033. 


Ele não realizou o desejo de seu pai de entrar para a política, optando por viajar pela Europa durante vários anos. 

Como muitos jovens brilhantes e inquietos de seus dias, entrou para um mosteiro. 

Em Bec, na Normandia, sob a supervisão do notável professor Lanfranc, Anselmo daria início a uma carreira notável.

Em 1066, o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, invadiu a Inglaterra. 

Nos anos que se seguiram, o novo rei trouxe muitos professores e clérigos normandos para a Inglaterra. 

Entre eles Lanfranc, que se tornou arcebispo de Cantuária, em 1070. Anselmo assumiu o lugar de seu mentor como abade de Bec.

Em 1093, Guilherme n, filho do conquistador, escolheu Anselmo para ser o arcebispo de Cantuária, mas esse movimento não melhorou as relações da igreja com o Estado. 

O rei, obstinado e agressivo, desejava o direito de indicar os clérigos de todo o reino. 

Anselmo, homem humilde que queria proteger a igreja, suas terras e seus bens das mãos de reis gananciosos, recusou-se a aceitar isso. 

Durante algum tempo, o arcebispo viveu exilado na Itália. 

Guilherme confiscou todos os recursos da igreja que iam para Cantuária.

Quando Guilherme morreu, seu irmão Henrique I ο sucedeu. 

Embora ele tenha pedido a Anselmo que retornasse, as batalhas entre a igreja e o Estado não terminaram. Henrique era tão mau quanto seu irmão, e Anselmo foi mais uma vez para o exílio.

Anselmo, durante o tempo que passou na Inglaterra, mostrou ser um pastor compassivo e administrador capaz. 

Quando foi exilado para o continente, ele se revelou um grande teólogo, pois foi ali que compôs sua maior obra.

Em Por que Deus se fez homem?, Anselmo lançou uma teoria sobre a maneira pela qual a morte de Cristo na cruz reconcilia o homem com Deus. 

Anselmo disse que Deus é o Senhor do cosmo, um ser cuja honra é ofendida pelo pecado humano. 

Embora deseje perdoar o homem com o objetivo de manter a ordem moral no universo, Deus não pode simplesmente “negligenciar” o pecado. 

Alguma satisfação deve ser dada, o que seja equivalente à ofensa. Uma vez que o pecado é coisa do homem, a justificação deve ser dada pelo homem. 

Contudo, o homem não pode atender à exigência de maneira adequada. Desse modo, Deus se torna homem, e aquele que cumpre as exigências é tanto Deus quanto homem: Cristo.

A idéia de Anselmo ficou conhecida como a teoria da satisfação da expiação e, provavelmente, ainda é a explicação teológica mais usada da obra expiatória de Cristo. 

Ela possui fontes bíblicas como “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens…” (2Co 5.19).

Anselmo foi um dos componentes do movimento chamado escolasticismo, formado por estudiosos cristãos que tentavam colocar a lógica a serviço da fé. 

Embora Anselmo conhecesse a Bíblia muito bem, estava disposto a testar o poder da lógica humana e, até mesmo, a colocar de lado a fé baseada na Bíblia para tentar provar suas doutrinas. 

Porém, a fé sempre foi fundamental. 

Na obra Proslogium, originariamente intitulada Fides quaerens intellectum [Fé que busca compreensão], 

Anselmo faz a famosa afirmação: “Creio para poder entender”. 

Ao declarar isso, ele queria dizer que todos os que buscam a verdade devem primeiramente ter fé, e não o oposto. 

Ele lançou o argumento ontológico para que acreditemos em Deus. 

De maneira resumida, disse que a razão humana exige a idéia de um Ser perfeito e que, portanto, esse Ser deve existir. 

Essa idéia fascina os filósofos e os teólogos de todas as eras.

sábado, 14 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1054 O cisma entre Oriente e Ocidente

As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.


Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. 

As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. 

No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. 

Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.

As teologías eram diferentes. 

O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. 

O Ocidente usava a palavra latina filíoque “e do Filho” no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito “procede do Pai”. 

Para o Oriente, essa adição era heresia.

Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. 

Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. 

Em 1049, Leão IX tornou-se papa. 

Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. 

O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. 

Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. 
O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.

Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. 

Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. 

As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. 

O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.

Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam “na igreja una, santa, católica e apostólica”. 

Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. 

Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.

Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. 

A curta “reunião” de 1204 aumentou a hostilidade. 

Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. 

O cristianismo unido parecia impossível.

Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. 

Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. 

Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1054 O cisma entre Oriente e Ocidente

As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.

Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. 

As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. 

No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. 

Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.

As teologias eram diferentes. 

O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. 

O Ocidente usava a palavra latina filíoque “e do Filho” no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito “procede do Pai”. 

Para o Oriente, essa adição era heresia.

Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. 

Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. 

Em 1049, Leão IX tornou-se papa. 

Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. 

O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. 

Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. 
O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.

Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. 

Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. 

As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. 

O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.

Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam “na igreja una, santa, católica e apostólica”. 

Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. 

Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.

Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. 

A curta “reunião” de 1204 aumentou a hostilidade. 

Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. 

O cristianismo unido parecia impossível.

Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. 

Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. 

Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.