quinta-feira, 19 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1150 Fundação das universidades de Paris e de Oxford


Fundação das universidades de Paris e de Oxford

O que acontece quando um aluno debate com seu professor de Teologia e sai vencedor? 


Na Idade Média, havia muitas possibilidades de ser rotulado de herege e expulso da escola. 

Foi exatamente o que aconteceu ao brilhante Pedro Abelardo. Como resultado parcial desse acontecimento, inventou-se a universidade.

Inicialmente, os mosteiros e as escolas das catedrais eram responsáveis pela educação superior. 

Essas escolas, no entanto, começaram a atrair professores de fora do clero, e esses mestres questionavam, com freqüência, o dogma oficial da igreja.

Foi isso o que aconteceu com Abelardo. 

Ele e alguns estudiosos deram início à “prática particular”, ensinando e vivendo dos honorários recebidos de alunos. 
Abelardo teve uma carreira bastante variada: fundou a própria escola em St. 

Denis, voltou a lecionar na catedral de Notre-Dame e, depois, passou a dar aulas particulares. 

Sua fama atraiu alunos à cidade de Paris, mas a igreja nunca confiou nele plenamente. 

Por fim, um grupo de professores, expulsos do claustro de Notre-Dame, fundou uma escola à margem esquerda do rio Sena.

Há algum debate quanto ao fato de se a primeira “universidade” foi fundada em Bolonha ou em Paris. 

O professor Ireneu fundou uma escola de Direito em Bolonha em 1088, entidade que recebeu o alvará de funcionamento do imperador Frederico Bar-barroxa, em 1159. 

Porém, o nome universidade teve sua origem em Paris. 

Nos tempos medievais, todas as ocupações eram muito bem organizadas. 

Logo, os professores e os alunos de entidades estabelecidas ao longo do rio Sena organizaram uma associação de classe chamada Universitas Societas Magistrorum et Scholarium [Sociedade Universal de Mestres e Alunos], sob a autoridade de um chanceler. 

Esse chanceler — ligado ao bispo de Paris, mas não de modo estreito — tinha a tarefa de conceder licenças de ensino.

Em 1200, Filipe II da França concedeu à “universidade” o status de órgão oficial. 

Como em Bolonha, os professores e os alunos recebiam alguns dos privilégios sociais do clero, embora fossem separados dele. 

O papa Inocencio III, que estudara em Paris, confirmou a situação da escola em 1208. 

Devido ao conflito com os bispos, referente ao controle do processo educacional, os membros da universidade fizeram uma greve entre 1229 e 1231. 

O papa Gregorio ix encerrou essa polêmica com a promessa de garantir à escola o direito de se autogovernar.

A Universidade de Paris tornou-se o centro do interesse do conhecimento da maior parte da Europa, pelo menos da porção ao norte dos Alpes. 

Ali foram desenvolvidas quatro “nações” de estudo, que eram fundamentadas na origem correspondente dos professores e dos alunos: francês, inglês/ alemão, normando e picardo (Países Baixos). 

Os alunos estrangeiros também precisavam de alojamento, que foram distribuídos conforme o procedimento adotado para a idéia das nações. 

Isso criou a base para as “faculdades” nas universidades. Paris também desenvolveu quatro campos de estudo: Artes, Medicina, Direito e Teologia.

Em 1167, mesmo antes de a Universidade de Paris alcançar sua condição de órgão oficial, Henrique II proibiu os ingleses de estudar em Paris. 

Um Studium Genérale foi estabelecido em Oxford. 

A liderança do chanceler foi oficialmente estabelecida em 1215.

O século XIII foi o apogeu da erudição. 

Paris, Oxford e Bolonha tornaram-se centros de teologia, filosofia e ciência. 

Esses eventos estabeleceram as tradições educacionais que duram até os dias atuais.

As universidades tornaram-se as incubadoras do Renascimento e da Reforma.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1115 Bernardo funda o mosteiro de Claraval

O monasticismo objetivava à piedade e à simplicidade. 

Durante certo período, cada movimento monástico buscou efetivamente essas boas intenções, mas, por fim, a frouxidão e o mundanismo tomaram conta, o que resultou no florescimento de uma nova ordem, em que encontrávamos maior devoção e simplicidade.

No final do século X, os beneditinos se tornaram presas dessas forças e careciam de uma reforma. 

De dentro de suas fileiras emergiu a ordem dos cistercienses, que buscavam voltar a uma vida mais simples de obras e de oração.

Bernardo, um dos maiores cistercienses, foi um homem que influenciou profundamente a igreja medieval. 

Convenceu trinta monges de sua ordem a segui-lo para um novo mosteiro que queria fundar na cidade de Claraval. 

Bernardo adotaria o nome daquela abadia e alcançaria o mundo cristão. 

Quando morreu, em 1153, ele já havia estabelecido cerca de 65 casas cistercienses, assim como encorajara as pessoas em sua fé, atormentara reis, elegera papas e pregara as Cruzadas.

Como seu objetivo era a busca por reforma moral e por piedade pessoal, Bernardo enfatizou a necessidade da experiência com Cristo e encorajou a autonegação e a sublimação de todos os cuidados mundanos a favor do amor a Deus. Sua ênfase levou a uma piedade maior e mais generalizada.

Na condição tanto de teólogo quanto de escritor inspirado, Bernardo disse que a teologia e o estudo da Bíblia deveriam “penetrar no coração em vez de explicar palavras”. 

De modo diferente dos escolásticos, que enfatizavam a racionalidade, Bernardo concentrava sua atenção na necessidade da vida transformada. 

Ele fez tudo o que estava ao seu alcance para silenciar os ensinamentos de homens como Pedro Abelardo, o mais perfeito exemplo de ceticismo da era medieval.

Embora Bernardo defendesse fortemente a ortodoxia, introduziu, na piedade medieval, uma grande ênfase em Maria. 

Ele negou a doutrina da imaculada conceição, acreditando que somente Cristo fora sem pecado. 

Porém, cristãos posteriores desenvolveriam suas idéias e terminaram por incorporá-las ao sistema de crenças da igreja.

Embora Bernardo tenha buscado uma vida simples, sua reputação de santo, escritor e pregador se espalhou muito além dos muros de seu mosteiro. 

Ele se envolveu na turbulenta política de seu tempo e chegou a decidir até mesmo entre dois postulantes rivais do papado. 

Foi também um vigoroso porta-voz da segunda Cruzada — a mais ineficiente de todas.

Em alguns momentos, esse homem, tão considerado, foi intolerante e teimoso. 

Teve sempre um perfil que era uma mistura de figura mística e pública, ele se manteve como batalhador pela verdade, um homem que poderia intervir em assuntos do mundo, mas que não se contaminava por ele. 

Bernardo de Claraval passou a outras pessoas seu objetivo apaixonado: a devoção total a Deus.

terça-feira, 17 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1095 O papa Urbano II lança a primeira Cruzada

Embora a maior parte da Europa do século XI fosse nominalmente cristã — todas as crianças eram batizadas; existia uma estrutura eclesiástica que que colocava cada cristão sob cuidado pastoral; os casamentos aconteciam na igreja; os que morriam recebiam os últimos ritos da igreja —, a Europa não se parecia muito com o Reino de Deus. 


Existiam conflitos constantes entre príncipes cristãos, e as guerras dos nobres desejos por mais terras causavam dificuldades às pessoas comuns.

A partir de 1088, um francês, que passou a ser conhecido por Urbano II, assumiu o cargo máximo da igreja. 

Seu papado foi marcado por disputas com o rei alemão Henrique IV — uma continuação, infrutífera, das políticas reformista de Gregorio VII novo papa não estava plenamente disposto a continuar essa batalha. 

Em vez disso, queria unir toda a cristandade. 

Quando o imperador Aleixo de Constantinopla apelou ao papa, pedindo ajuda para lutar contra os turcos muçulmanos, Urbano percebeu que um inimigo comum poderia ajudar a alcançar seu objetivo.

Pouco importava que o papa tivesse excomungado o patriarca de Constantinopla e que os católicos e os ortodoxos do Oriente não fizessem parte de uma única igreja. 

Urbano buscava obter o controle sobre o Oriente, enquanto encontrava distração para os príncipes briguentos do Ocidente.

Em 1095, Urbano convocou o Concilio de Clermont. 

Ali, ele pregou um sermão inspirador: “Uma horrível notícia está sendo propagada […] uma raça amaldiçoada e totalmente alienada de Deus […] invadiu as terras dos cristãos e os expulsou por meio da espada, da pilhagem e do fogo”. 

Ele fez o seguinte apelo: “Devemos retomar as terras dessa raça ímpia, subjugando-a a nós”.

“Deus vultl Deus vult!” [“Deus deseja isso!”], gritava a multidão. 

Ε esse se tornou o grito de guerra das Cruzadas.

A medida que os representantes do papa atravessavam a Europa, recrutando cavaleiros para ir à Palestina, recebiam entusiásticas reações dos guerreiros franceses e dos italianos. 

Muitos foram motivados por objetivos religiosos, mas, sem dúvida, outros se engajaram em função do ganho econômico e da aventura de recapturar os locais de peregrinação da Palestina, que haviam caído nas mãos dos muçulmanos.

Ε provável que os guerreiros se sentissem virtuosos ao assassinar um inimigo não-cristão. 

A matança dos infiéis que tomaram a Terra Santa cristã poderia parecer um ato de serviço a Deus.

Para encorajar as Cruzadas, Urbano e os outros papas, os que vieram depois dele, enfatizaram os “benefícios” espirituais da guerra contra os muçulmanos. 

Arrancando uma página do Alcorão, Urbano assegurou que os guerreiros que experimentassem essa penitência entrariam no céu diretamente — ou, pelo menos, teriam uma redução no tempo que passariam no purgatório.

Em seu caminho para a Terra Santa, os cruzados pararam em Constan-tinopla. 

O tempo que passaram ali mostrou uma coisa: a união entre o Oriente e o Ocidente continuava improvável. 

O imperador via os guerreiros vestidos de malhas de ferro como ameaça a seu trono. 

Quando os cruzados descobriram que Aleixo fizera tratados com os turcos, sentiram que esse “traidor” negara a primeira parte de sua missão: expulsar os turcos de Constantinopla.

Com provisões fornecidas pelo imperador, o exército se encaminhou para o sul e para o leste, capturando as cidades de Antioquia e Jerusalém. 

Depois da vitória na Terra Santa, houve um banho de sangue. “Não faça prisioneiro algum”, era a tática que os cruzados usavam. 

Um observador apaixonado escreveu que os soldados “cavalgavam com sangue chegando até a altura de suas rédeas”.

Depois de estabelecer o Reino Latino de Jerusalém e indicar Godofredo de Bouillon como seu governador, eles saíram da ofensiva para a defensiva. 

Começaram a construir novos castelos, alguns dos quais permanecem até hoje.

Nos anos que se seguiram, novas ordens religiosas com características militares e monásticas, foram formadas. 

A mais famosa foi a dos Cavaleiros Templarios e a dos Cavaleiros Hospitalarios. 

Embora essas ordens tivessem sido criadas originariamente para ajudar os cruzados, elas se tornaram organizações militares poderosas que agiam de maneira independente.

A primeira Cruzada seria a mais bem-sucedida. 

Embora esses esforços militares tivessem sido dramáticos e pitorescos, não conseguiram manter os muçulmanos à distância. 

Em 1291, as tropas muçulmanas capturaram a cidade de Acre, pondo um fim definitivo às Cruzadas.

Em muitos aspectos, as Cruzadas deixaram um legado negativo. 
Elas ameaçaram as relações entre as igrejas do Ocidente e do Oriente, e a brutalidade dos cruzados somente contribuiu para que seus inimigos se tornassem ainda mais fanáticos. 

Além disso, as lições que os cruzados aprenderam nos campos de batalha tornaram-se parte das estratégias para guerras futuras, promovidas contra outros cristãos.

A resposta ao chamado de Urbano incrementou grandemente o poder do papado. 

Ele conseguiu reunir um grande número de soldados que estavam dispostos a morrer por sua fé, um feito que nenhum príncipe poderia ignorar.

A luta pelo poder entre a igreja e o Estado ainda não havia acabado.

domingo, 15 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1093 Anselmo é escolhido arcebispo de Cantuária

Um dos maiores teólogos da Inglaterra nasceu na Itália e brigou com dois reis.

Anselmo nasceu nos Alpes italianos por volta de 1033. 


Ele não realizou o desejo de seu pai de entrar para a política, optando por viajar pela Europa durante vários anos. 

Como muitos jovens brilhantes e inquietos de seus dias, entrou para um mosteiro. 

Em Bec, na Normandia, sob a supervisão do notável professor Lanfranc, Anselmo daria início a uma carreira notável.

Em 1066, o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, invadiu a Inglaterra. 

Nos anos que se seguiram, o novo rei trouxe muitos professores e clérigos normandos para a Inglaterra. 

Entre eles Lanfranc, que se tornou arcebispo de Cantuária, em 1070. Anselmo assumiu o lugar de seu mentor como abade de Bec.

Em 1093, Guilherme n, filho do conquistador, escolheu Anselmo para ser o arcebispo de Cantuária, mas esse movimento não melhorou as relações da igreja com o Estado. 

O rei, obstinado e agressivo, desejava o direito de indicar os clérigos de todo o reino. 

Anselmo, homem humilde que queria proteger a igreja, suas terras e seus bens das mãos de reis gananciosos, recusou-se a aceitar isso. 

Durante algum tempo, o arcebispo viveu exilado na Itália. 

Guilherme confiscou todos os recursos da igreja que iam para Cantuária.

Quando Guilherme morreu, seu irmão Henrique I ο sucedeu. 

Embora ele tenha pedido a Anselmo que retornasse, as batalhas entre a igreja e o Estado não terminaram. Henrique era tão mau quanto seu irmão, e Anselmo foi mais uma vez para o exílio.

Anselmo, durante o tempo que passou na Inglaterra, mostrou ser um pastor compassivo e administrador capaz. 

Quando foi exilado para o continente, ele se revelou um grande teólogo, pois foi ali que compôs sua maior obra.

Em Por que Deus se fez homem?, Anselmo lançou uma teoria sobre a maneira pela qual a morte de Cristo na cruz reconcilia o homem com Deus. 

Anselmo disse que Deus é o Senhor do cosmo, um ser cuja honra é ofendida pelo pecado humano. 

Embora deseje perdoar o homem com o objetivo de manter a ordem moral no universo, Deus não pode simplesmente “negligenciar” o pecado. 

Alguma satisfação deve ser dada, o que seja equivalente à ofensa. Uma vez que o pecado é coisa do homem, a justificação deve ser dada pelo homem. 

Contudo, o homem não pode atender à exigência de maneira adequada. Desse modo, Deus se torna homem, e aquele que cumpre as exigências é tanto Deus quanto homem: Cristo.

A idéia de Anselmo ficou conhecida como a teoria da satisfação da expiação e, provavelmente, ainda é a explicação teológica mais usada da obra expiatória de Cristo. 

Ela possui fontes bíblicas como “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens…” (2Co 5.19).

Anselmo foi um dos componentes do movimento chamado escolasticismo, formado por estudiosos cristãos que tentavam colocar a lógica a serviço da fé. 

Embora Anselmo conhecesse a Bíblia muito bem, estava disposto a testar o poder da lógica humana e, até mesmo, a colocar de lado a fé baseada na Bíblia para tentar provar suas doutrinas. 

Porém, a fé sempre foi fundamental. 

Na obra Proslogium, originariamente intitulada Fides quaerens intellectum [Fé que busca compreensão], 

Anselmo faz a famosa afirmação: “Creio para poder entender”. 

Ao declarar isso, ele queria dizer que todos os que buscam a verdade devem primeiramente ter fé, e não o oposto. 

Ele lançou o argumento ontológico para que acreditemos em Deus. 

De maneira resumida, disse que a razão humana exige a idéia de um Ser perfeito e que, portanto, esse Ser deve existir. 

Essa idéia fascina os filósofos e os teólogos de todas as eras.