quarta-feira, 25 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1206 Francisco de Assis renuncia à riqueza

Na virada do século XII, ο futuro parecia brilhante para o jovem Francisco Bernardone. 

Filho de um rico comerciante da cidade de Assis, na Itália, Francisco podia olhar para o futuro, que lhe reservava uma vida de nobreza e de abundância.


A cidade de Assis guerreava contra Perúgia, cidade vizinha, de modo que Francisco se encaminhou para a batalha, resplandecente em sua armadura de cavaleiro com um elmo emplumado e uma lança ao seu lado. 

Capturado na batalha, foi mantido prisioneiro de guerra por um ano em Perúgia. 

Pouco depois de sua libertação, ficou bastante doente. 

Essas experiências fizeram com que ele questionasse o valor da riqueza que herdara.

Certa vez, enquanto cavalgava, ele viu um leproso na estrada. Francisco já sentira repugnância por esse tipo de mendigo e começou a galopar para deixá-lo para trás mais rapidamente, mas esse homem era diferente, pois tinha a face de Cristo. 
Tomado por um senso de devoção espiritual, Francisco desceu de seu cavalo e beijou o mendigo. Deu dinheiro ao homem e, colocando-o na garupa de seu cavalo, levou-o até seu destino.

Esse desejo de cuidar dos necessitados cresceu dentro de Francisco, embora seu pai zombasse dele. 

Em 1206, Francisco saiu de casa, renunciando à riqueza do pai, que terminou por deserdá-lo. 

O jovem se dedicou a uma vida de pobreza. 

Passou a dar comida e roupas a todos os que precisavam. 

Ele próprio se tornou um mendigo, pedindo aos ricos, sem qualquer vergonha, para partilhar com os que “não possuíam nada”.

Francisco começou a pregar em capelas desertas próximas de Assis. Seu evangelho simples de amor e de serviço produziu um séquito fiel. 

Para os que estavam dispostos a se juntar a ele na renúncia à riqueza, estabeleceu um conjunto de regras para a vida, as regras básicas da ordem franciscana. 

Ele e onze amigos caminharam até Roma para receber a aprovação papal para sua ordem.

Em 1218, havia pelo menos três mil seguidores de Francisco. Contudo, ele tocara em um ponto nevrálgico. 

A igreja já acumulara poder e riqueza. 

Na sociedade italiana, os ricos ficavam cada vez mais ricos, com as bênçãos da igreja, enquanto os pobres eram deixados à míngua. 

Francisco, no entanto, ofereceu um novo caminho de humildade, não contaminado pela ganância. Muitos devotos seguiram seu exemplo. 

Outras pessoas, que não estavam dispostas a fazer esses sacrifícios, admiravam os pregadores pobres e os apoiavam com ofertas.

Séculos mais tarde, Martinho Lu-tero criticaria severamente a tradição franciscana devido à sua ênfase nas boas obras — a salvação vem somente pela fé, diria ele. 

Contudo, de muitas maneiras, esses dois reformadores lutaram contra o mesmo inimigo: a igreja que se importava basicamente com a preservação de sua própria e que se esquecera do ensinamento simples das Escrituras.

Francisco morreu no auge da fama, em outubro de 1226. 

Foi canonizado dois anos depois. Suas últimas palavras foram: “Cumpri a minha missão; mas agora Cristo lhe ensinará qual é a sua”.

sábado, 21 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1173 Pedro Valdo funda o movimento valdense

Antes da Reforma, alguns grupos de cristãos se opuseram ao caminho que a Igreja Católica tomava. 

Um desses grupos foi o dos valdenses, fundado por um mercador francês que estava descontente com a igreja medieval.


Certo dia, Pedro Valdo ouviu um trovador viajante cantar sobre um jovem rico que deixara sua família, e, anos mais tarde, voltou para casa, mas estava tão malvestido e desnutrido que sua família não conseguiu reconhecê-lo. Somente no leito de morte revelou sua verdadeira identidade. 

Ele viveu entre os pobres e enfrentou a morte alegremente, feliz por se encontrar com o Deus que sorria para os menos favorecidos.

Profundamente tocado pela história, Valdo agiu rapidamente. Separou uma quantia de dinheiro suficiente para a esposa, colocou as duas filhas em um convento e doou o restante das posses aos pobres. 

Contratou dois sacerdotes para traduzir a Bíblia para o francês e começou a memorizar longas passagens bíblicas. 

A seguir, saiu para ensinar sobre Cristo ao povo.

Embora os monges e as freiras pregassem e ensinassem a pobreza e a autonegação — a despeito, muitas vezes, de sua incapacidade de manter esses votos — a igreja via isso como algo que apenas eles precisavam praticar. Poucos esperavam que a pessoa comum vivesse uma vida religiosa profunda.

Valdo e seus seguidores — que chamavam a si mesmos “pobres de Lião” — acreditavam que Jesus queria que seus ensinamentos fossem colocados em prática por todas as pessoas. 

Saindo de dois em dois, os valdenses visitavam os mercados, falavam com as pessoas e lhes ensinavam o Novo Testamento.

O contraste entre a igreja e esses pregadores ficou bem aparente para o arcebispo de Lião. 

Ele ordenou que parassem de fazer aquilo. 

Valdo citou o apóstolo Pedro: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (At 5.29). 

Embora o arcebispo tivesse excomungado Valdo, isso não o impediu nem tampouco o movimento que mantinha seu nome de prosseguir em suas atividades. 

Os valdenses apelaram ao papa Alexandre π. 

Embora estivesse ocupado com o πι Concilio de Latrão (1179), aqueles homens — que caminhavam “de dois em dois, descalços, vestidos com, roupas simples, que não possuíam nada e mantinham todas as coisas em comum, como os apóstolos” — impressionaram o papa. 

Contudo, pelo fato de serem leigos, o papa não podia permitir que pregassem sem a aprovação de um bispo; algo que, dificilmente, conseguiriam.

Fundamentados nas palavras de Atos, dos apóstolos, Valdo e seus seguidores continuaram a pregar e acabaram por ser excomungados pelo papa Lúcio II, em 1184.

Os valdenses não ensinavam heresias, a despeito das afirmações que a igreja fez contra eles. 

Eram ortodoxos, mas, pelo fato de estarem fora da estrutura da igreja, os seguidores de Valdo não puderam obter a aprovação da hierarquia eclesiástica. 

Na Idade Média, para os clérigos, qualquer pessoa que estivesse fora da igreja era considerada herege.

Muitos cristãos franceses e italianos, desanimados com a igreja que havia se mundanizado, voltaram-se para os valdenses, que ensinavam o sacerdócio de todos os crentes. 

Eles rejeitavam as relíquias, as peregrinações e as parafernálias, como a água benta, a vestimenta dos clérigos, os dias santos e outros dias de festa, assim como o purgatório. 

Para eles, a comunhão não precisaria ser celebrada todos os domingos; os pregadores valdenses falavam diretamente às pessoas e liam a Bíblia para elas em sua língua.

Em 1207, o papa Inocencio πι se dispôs a receber os valdenses de volta se eles se submetessem às autoridades da Igreja Católica. 

Muitos retornaram, mas outros não, e, em 1214, o papa os condenou como hereges e pediu sua supressão. 

A Inquisição fez o melhor que pôde para eliminá-los.

Apesar de tudo isso, os valdenses prosseguiram. 

Eles se espalharam por toda a Europa. 

Quando houve a Reforma, foram calorosamente recebidos pela maioria dos protestantes. Hoje em dia, eles se consideram protestantes também. 

Os valdenses são uma lembrança viva de que, a despeito dos momentos obscuros da história da igreja, novos movimentos para corrigir a direção sempre surgiram dentro dela mesma.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1150 Fundação das universidades de Paris e de Oxford


Fundação das universidades de Paris e de Oxford

O que acontece quando um aluno debate com seu professor de Teologia e sai vencedor? 


Na Idade Média, havia muitas possibilidades de ser rotulado de herege e expulso da escola. 

Foi exatamente o que aconteceu ao brilhante Pedro Abelardo. Como resultado parcial desse acontecimento, inventou-se a universidade.

Inicialmente, os mosteiros e as escolas das catedrais eram responsáveis pela educação superior. 

Essas escolas, no entanto, começaram a atrair professores de fora do clero, e esses mestres questionavam, com freqüência, o dogma oficial da igreja.

Foi isso o que aconteceu com Abelardo. 

Ele e alguns estudiosos deram início à “prática particular”, ensinando e vivendo dos honorários recebidos de alunos. 
Abelardo teve uma carreira bastante variada: fundou a própria escola em St. 

Denis, voltou a lecionar na catedral de Notre-Dame e, depois, passou a dar aulas particulares. 

Sua fama atraiu alunos à cidade de Paris, mas a igreja nunca confiou nele plenamente. 

Por fim, um grupo de professores, expulsos do claustro de Notre-Dame, fundou uma escola à margem esquerda do rio Sena.

Há algum debate quanto ao fato de se a primeira “universidade” foi fundada em Bolonha ou em Paris. 

O professor Ireneu fundou uma escola de Direito em Bolonha em 1088, entidade que recebeu o alvará de funcionamento do imperador Frederico Bar-barroxa, em 1159. 

Porém, o nome universidade teve sua origem em Paris. 

Nos tempos medievais, todas as ocupações eram muito bem organizadas. 

Logo, os professores e os alunos de entidades estabelecidas ao longo do rio Sena organizaram uma associação de classe chamada Universitas Societas Magistrorum et Scholarium [Sociedade Universal de Mestres e Alunos], sob a autoridade de um chanceler. 

Esse chanceler — ligado ao bispo de Paris, mas não de modo estreito — tinha a tarefa de conceder licenças de ensino.

Em 1200, Filipe II da França concedeu à “universidade” o status de órgão oficial. 

Como em Bolonha, os professores e os alunos recebiam alguns dos privilégios sociais do clero, embora fossem separados dele. 

O papa Inocencio III, que estudara em Paris, confirmou a situação da escola em 1208. 

Devido ao conflito com os bispos, referente ao controle do processo educacional, os membros da universidade fizeram uma greve entre 1229 e 1231. 

O papa Gregorio ix encerrou essa polêmica com a promessa de garantir à escola o direito de se autogovernar.

A Universidade de Paris tornou-se o centro do interesse do conhecimento da maior parte da Europa, pelo menos da porção ao norte dos Alpes. 

Ali foram desenvolvidas quatro “nações” de estudo, que eram fundamentadas na origem correspondente dos professores e dos alunos: francês, inglês/ alemão, normando e picardo (Países Baixos). 

Os alunos estrangeiros também precisavam de alojamento, que foram distribuídos conforme o procedimento adotado para a idéia das nações. 

Isso criou a base para as “faculdades” nas universidades. Paris também desenvolveu quatro campos de estudo: Artes, Medicina, Direito e Teologia.

Em 1167, mesmo antes de a Universidade de Paris alcançar sua condição de órgão oficial, Henrique II proibiu os ingleses de estudar em Paris. 

Um Studium Genérale foi estabelecido em Oxford. 

A liderança do chanceler foi oficialmente estabelecida em 1215.

O século XIII foi o apogeu da erudição. 

Paris, Oxford e Bolonha tornaram-se centros de teologia, filosofia e ciência. 

Esses eventos estabeleceram as tradições educacionais que duram até os dias atuais.

As universidades tornaram-se as incubadoras do Renascimento e da Reforma.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1115 Bernardo funda o mosteiro de Claraval

O monasticismo objetivava à piedade e à simplicidade. 

Durante certo período, cada movimento monástico buscou efetivamente essas boas intenções, mas, por fim, a frouxidão e o mundanismo tomaram conta, o que resultou no florescimento de uma nova ordem, em que encontrávamos maior devoção e simplicidade.

No final do século X, os beneditinos se tornaram presas dessas forças e careciam de uma reforma. 

De dentro de suas fileiras emergiu a ordem dos cistercienses, que buscavam voltar a uma vida mais simples de obras e de oração.

Bernardo, um dos maiores cistercienses, foi um homem que influenciou profundamente a igreja medieval. 

Convenceu trinta monges de sua ordem a segui-lo para um novo mosteiro que queria fundar na cidade de Claraval. 

Bernardo adotaria o nome daquela abadia e alcançaria o mundo cristão. 

Quando morreu, em 1153, ele já havia estabelecido cerca de 65 casas cistercienses, assim como encorajara as pessoas em sua fé, atormentara reis, elegera papas e pregara as Cruzadas.

Como seu objetivo era a busca por reforma moral e por piedade pessoal, Bernardo enfatizou a necessidade da experiência com Cristo e encorajou a autonegação e a sublimação de todos os cuidados mundanos a favor do amor a Deus. Sua ênfase levou a uma piedade maior e mais generalizada.

Na condição tanto de teólogo quanto de escritor inspirado, Bernardo disse que a teologia e o estudo da Bíblia deveriam “penetrar no coração em vez de explicar palavras”. 

De modo diferente dos escolásticos, que enfatizavam a racionalidade, Bernardo concentrava sua atenção na necessidade da vida transformada. 

Ele fez tudo o que estava ao seu alcance para silenciar os ensinamentos de homens como Pedro Abelardo, o mais perfeito exemplo de ceticismo da era medieval.

Embora Bernardo defendesse fortemente a ortodoxia, introduziu, na piedade medieval, uma grande ênfase em Maria. 

Ele negou a doutrina da imaculada conceição, acreditando que somente Cristo fora sem pecado. 

Porém, cristãos posteriores desenvolveriam suas idéias e terminaram por incorporá-las ao sistema de crenças da igreja.

Embora Bernardo tenha buscado uma vida simples, sua reputação de santo, escritor e pregador se espalhou muito além dos muros de seu mosteiro. 

Ele se envolveu na turbulenta política de seu tempo e chegou a decidir até mesmo entre dois postulantes rivais do papado. 

Foi também um vigoroso porta-voz da segunda Cruzada — a mais ineficiente de todas.

Em alguns momentos, esse homem, tão considerado, foi intolerante e teimoso. 

Teve sempre um perfil que era uma mistura de figura mística e pública, ele se manteve como batalhador pela verdade, um homem que poderia intervir em assuntos do mundo, mas que não se contaminava por ele. 

Bernardo de Claraval passou a outras pessoas seu objetivo apaixonado: a devoção total a Deus.