domingo, 29 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1273 Tomás de Aquino completa sua Suma teológica

O homem, cujo sistema teológico se tornaria o guia de sua igreja, era chamado de “boi mudo” por seus colegas em Colônia. 

Embora o apelido pudesse se adequar tanto ao seu porte corpulento e lerdo quanto à sua conduta bastante séria, de modo algum refletia a agilidade mental por trás da aparência.


Tomás de Aquino foi o maior teólogo da Idade Média. 

Nasceu em 1225, numa família de nobres abastados. 

Aos cinco anos, já era conhecido por sua piedade, e seus pais o enviaram para a escola de uma abadia. 

Aos catorze anos, foi para a Universidade de Nápoles, onde Tomás ficou tão impressionado com seu professor dominicano que decidiu tornar-se também monge dessa ordem.

A família de Tomás se esforçou bastante na tentativa de mudar sua decisão, chegando até mesmo ao extremo de seqüestrá-lo, e, além de tentá-lo, chegaram a confiná-lo por um ano; por fim, desistiram. Tomás foi para Paris a fim de estudar com Aberto Magno.

Naquela época, os filósofos não-cristãos atiçavam a mente dos pensadores cristãos. 

As obras de Aristóteles, do muçulmano Averróis e do judeu Maimônides foram traduzidas para o latim. 

Os estudiosos ficaram fascinados por esses filósofos que explicavam todo o universo sem qualquer referência às Escrituras do Novo Testamento.

Dando continuidade à tradição do escolasticismo, Tomás tentou reconciliar as correntes da teologia e da filosofia, aparentemente diferentes. 

Fazia distinção entre as duas, às quais se referia como razão e revelação, apesar de enfatizar que elas não se contradiziam, necessariamente. Ambas eram fontes de conhecimento, dizia ele, vindas de Deus, mas “na teologia sacra, todas as coisas são tratadas da perspectiva de Deus”.

Tomás entendia as limitações da razão. 

Ela é baseada somente no conhecimento sensorial e, conforme dizia, embora possa nos levar a acreditar em Deus, somente a revelação pode apresentar o Deus trino da Bíblia. 

Somente a revelação pode mostrar plenamente as origens e o destino do homem. 

Ao usar a revelação e as deduções lógicas baseadas nela, o homem pode construir uma teologia que explica a si mesmo e ao universo.

Os complexos argumentos da Suma teológica mostram a habilidade de Tomás de Aquino com relação ao desenvolvimento de um raciocínio bastante intrincado. 

Em um primeiro momento, houve bastante oposição às suas idéias. Muitas pessoas não aprovavam a ênfase que os escolásticos davam à razão. 

Não demorou muito, porém, para que essa e outras obras, como a Suma contra os gentíos — que já causara discussão anteriormente —, se tornassem parte de grande destaque da doutrina da igreja. 

No Concilio de Trento, o catolicismo usou as obras de Aquino quando dispôs suas forças contra o surgimento do protestantismo.

Embora ele tenha se tornado um dos teólogos, um dos mestres e um dos pregadores da igreja mais proeminente, Aquino continuava sendo um homem humilde. 

Três meses antes de sua morte, em 1274, anunciou que uma visão celestial lhe mostrara claramente que sua visão teológica “era simplesmente um monte de palha”. 

Ele desistiu de produzir obras teológicas, e a Suma teológica nunca foi concluída

sábado, 28 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1215 O IV Concilio de Latrão

O papa Inocêncio IV, que governou de 1198 a 1216, criou o mais poderoso papado da historia medieval. 

Esse homem influente e talentoso buscou trazer ordem e disciplina à igreja. 

Reformou e centralizou a administração eclesiástica, além de ter se envolvido nos casos políticos de sua época.


Inocêncio queria que o papado controlasse tanto as questões da igreja quanto os assuntos do Estado. 


Ao passo que os papas anteriores haviam atribuído a si mesmos a designação “Vigário de Pedro”, Inocêncio reivindicou o direito de ser chamado “Vigário de Cristo”. 

Ao afirmar que era o representante de Cristo na terra, declarou que o papa era um “mediador entre Deus e os homens, abaixo de Deus, mas acima dos homens”. 

Com grande vigor, assumiu as tarefas de seu ofício, quer excomungando príncipes rebeldes, quer expulsando hereges.

Em 1215, no IV Concilio de Latrão, a igreja adotou muitas das ideias de Inocêncio. Em sessões que chegaram a durar até três dias, foram estabelecidos centenas de decretos.

Como Inocêncio estava preocupado com o fato de que todo cristão batizado deveria mostrar alguma aparência de cristianismo, o concilio estabeleceu que, anualmente, toda pessoa deveria fazer uma confissão a um sacerdote e tomar parte na comunhão.

Nesse Concilio, a doutrina da transubstanciação tornou-se oficialmente parte da igreja. 

De maneira não oficial, a idéia de que o pão e o vinho da comunhão eram realmente o corpo e o sangue de Cristo já circulava havia vários anos. 

A igreja via a participação na comunhão como parte importantíssima da salvação. 

O fato de a comunhão ser negada a alguém, como no caso da excomunhão, representava um grande perigo para a alma. 

Ao ter acesso ao sangue e corpo de Cristo, o sacerdote desempenhava um papel vital na autoridade da igreja. 

A excomunhão exercia grande poder, porque negava às pessoas o acesso ao próprio Cristo.

Cônscio da ignorância de muitos sacerdotes, Inocêncio encorajou o Concilio a decretar que toda catedral deveria ter um professor de Teologia. 

Desse modo, alguém daria aos sacerdotes a instrução necessária.

Em anuência à visão de Inocêncio, referente à autoridade do papa, ou seja, sua crença de que somente havia uma igreja verdadeira e, portanto, apenas um repositório de verdade espiritual, estabeleceu um papado mais poderoso. 

Discordar da igreja não era mais uma questão de opinião; o here-ge colocava em risco tanto sua alma quanto a de outros. 
O Concilio deu ao Estado o direito de punir os here-ges e confiscar suas propriedades. 

As autoridades que não removessem o herege enfrentariam a excomunhão, e os que cooperassem com a igreja receberiam perdão completo.

Uma vez mais, a igreja enfrentou a questão da indicação secular das autoridades da igreja. 

Ela negava o direito aos governadores seculares de apontarem bispos em seus reinos. Somente o papa poderia colocar ou remover bispos, de acordo com o Concilio. 

Inocêncio já se recusara a aceitar o arcebispo de Cantuária, indicado pelo rei inglês John. 

Para forçar John a obedecer, o papa o excomungou. 

Diante da possibilidade de perder seu trono, o rei teimoso terminou por se submeter.

O Concilio também declarou que os judeus deveriam usar uma identificação especial. 

Os cristãos ficaram proibidos de fazer qualquer tipo de negócio com eles. 

Com o tempo, isso levaria à criação dos guetos.

Por meio desse e de outros decretos, Inocêncio criou uma instituição que teria influência dominante em toda a Europa até a época da Reforma.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1206 Francisco de Assis renuncia à riqueza

Na virada do século XII, ο futuro parecia brilhante para o jovem Francisco Bernardone. 

Filho de um rico comerciante da cidade de Assis, na Itália, Francisco podia olhar para o futuro, que lhe reservava uma vida de nobreza e de abundância.


A cidade de Assis guerreava contra Perúgia, cidade vizinha, de modo que Francisco se encaminhou para a batalha, resplandecente em sua armadura de cavaleiro com um elmo emplumado e uma lança ao seu lado. 

Capturado na batalha, foi mantido prisioneiro de guerra por um ano em Perúgia. 

Pouco depois de sua libertação, ficou bastante doente. 

Essas experiências fizeram com que ele questionasse o valor da riqueza que herdara.

Certa vez, enquanto cavalgava, ele viu um leproso na estrada. Francisco já sentira repugnância por esse tipo de mendigo e começou a galopar para deixá-lo para trás mais rapidamente, mas esse homem era diferente, pois tinha a face de Cristo. 
Tomado por um senso de devoção espiritual, Francisco desceu de seu cavalo e beijou o mendigo. Deu dinheiro ao homem e, colocando-o na garupa de seu cavalo, levou-o até seu destino.

Esse desejo de cuidar dos necessitados cresceu dentro de Francisco, embora seu pai zombasse dele. 

Em 1206, Francisco saiu de casa, renunciando à riqueza do pai, que terminou por deserdá-lo. 

O jovem se dedicou a uma vida de pobreza. 

Passou a dar comida e roupas a todos os que precisavam. 

Ele próprio se tornou um mendigo, pedindo aos ricos, sem qualquer vergonha, para partilhar com os que “não possuíam nada”.

Francisco começou a pregar em capelas desertas próximas de Assis. Seu evangelho simples de amor e de serviço produziu um séquito fiel. 

Para os que estavam dispostos a se juntar a ele na renúncia à riqueza, estabeleceu um conjunto de regras para a vida, as regras básicas da ordem franciscana. 

Ele e onze amigos caminharam até Roma para receber a aprovação papal para sua ordem.

Em 1218, havia pelo menos três mil seguidores de Francisco. Contudo, ele tocara em um ponto nevrálgico. 

A igreja já acumulara poder e riqueza. 

Na sociedade italiana, os ricos ficavam cada vez mais ricos, com as bênçãos da igreja, enquanto os pobres eram deixados à míngua. 

Francisco, no entanto, ofereceu um novo caminho de humildade, não contaminado pela ganância. Muitos devotos seguiram seu exemplo. 

Outras pessoas, que não estavam dispostas a fazer esses sacrifícios, admiravam os pregadores pobres e os apoiavam com ofertas.

Séculos mais tarde, Martinho Lu-tero criticaria severamente a tradição franciscana devido à sua ênfase nas boas obras — a salvação vem somente pela fé, diria ele. 

Contudo, de muitas maneiras, esses dois reformadores lutaram contra o mesmo inimigo: a igreja que se importava basicamente com a preservação de sua própria e que se esquecera do ensinamento simples das Escrituras.

Francisco morreu no auge da fama, em outubro de 1226. 

Foi canonizado dois anos depois. Suas últimas palavras foram: “Cumpri a minha missão; mas agora Cristo lhe ensinará qual é a sua”.

sábado, 21 de maio de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1173 Pedro Valdo funda o movimento valdense

Antes da Reforma, alguns grupos de cristãos se opuseram ao caminho que a Igreja Católica tomava. 

Um desses grupos foi o dos valdenses, fundado por um mercador francês que estava descontente com a igreja medieval.


Certo dia, Pedro Valdo ouviu um trovador viajante cantar sobre um jovem rico que deixara sua família, e, anos mais tarde, voltou para casa, mas estava tão malvestido e desnutrido que sua família não conseguiu reconhecê-lo. Somente no leito de morte revelou sua verdadeira identidade. 

Ele viveu entre os pobres e enfrentou a morte alegremente, feliz por se encontrar com o Deus que sorria para os menos favorecidos.

Profundamente tocado pela história, Valdo agiu rapidamente. Separou uma quantia de dinheiro suficiente para a esposa, colocou as duas filhas em um convento e doou o restante das posses aos pobres. 

Contratou dois sacerdotes para traduzir a Bíblia para o francês e começou a memorizar longas passagens bíblicas. 

A seguir, saiu para ensinar sobre Cristo ao povo.

Embora os monges e as freiras pregassem e ensinassem a pobreza e a autonegação — a despeito, muitas vezes, de sua incapacidade de manter esses votos — a igreja via isso como algo que apenas eles precisavam praticar. Poucos esperavam que a pessoa comum vivesse uma vida religiosa profunda.

Valdo e seus seguidores — que chamavam a si mesmos “pobres de Lião” — acreditavam que Jesus queria que seus ensinamentos fossem colocados em prática por todas as pessoas. 

Saindo de dois em dois, os valdenses visitavam os mercados, falavam com as pessoas e lhes ensinavam o Novo Testamento.

O contraste entre a igreja e esses pregadores ficou bem aparente para o arcebispo de Lião. 

Ele ordenou que parassem de fazer aquilo. 

Valdo citou o apóstolo Pedro: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (At 5.29). 

Embora o arcebispo tivesse excomungado Valdo, isso não o impediu nem tampouco o movimento que mantinha seu nome de prosseguir em suas atividades. 

Os valdenses apelaram ao papa Alexandre π. 

Embora estivesse ocupado com o πι Concilio de Latrão (1179), aqueles homens — que caminhavam “de dois em dois, descalços, vestidos com, roupas simples, que não possuíam nada e mantinham todas as coisas em comum, como os apóstolos” — impressionaram o papa. 

Contudo, pelo fato de serem leigos, o papa não podia permitir que pregassem sem a aprovação de um bispo; algo que, dificilmente, conseguiriam.

Fundamentados nas palavras de Atos, dos apóstolos, Valdo e seus seguidores continuaram a pregar e acabaram por ser excomungados pelo papa Lúcio II, em 1184.

Os valdenses não ensinavam heresias, a despeito das afirmações que a igreja fez contra eles. 

Eram ortodoxos, mas, pelo fato de estarem fora da estrutura da igreja, os seguidores de Valdo não puderam obter a aprovação da hierarquia eclesiástica. 

Na Idade Média, para os clérigos, qualquer pessoa que estivesse fora da igreja era considerada herege.

Muitos cristãos franceses e italianos, desanimados com a igreja que havia se mundanizado, voltaram-se para os valdenses, que ensinavam o sacerdócio de todos os crentes. 

Eles rejeitavam as relíquias, as peregrinações e as parafernálias, como a água benta, a vestimenta dos clérigos, os dias santos e outros dias de festa, assim como o purgatório. 

Para eles, a comunhão não precisaria ser celebrada todos os domingos; os pregadores valdenses falavam diretamente às pessoas e liam a Bíblia para elas em sua língua.

Em 1207, o papa Inocencio πι se dispôs a receber os valdenses de volta se eles se submetessem às autoridades da Igreja Católica. 

Muitos retornaram, mas outros não, e, em 1214, o papa os condenou como hereges e pediu sua supressão. 

A Inquisição fez o melhor que pôde para eliminá-los.

Apesar de tudo isso, os valdenses prosseguiram. 

Eles se espalharam por toda a Europa. 

Quando houve a Reforma, foram calorosamente recebidos pela maioria dos protestantes. Hoje em dia, eles se consideram protestantes também. 

Os valdenses são uma lembrança viva de que, a despeito dos momentos obscuros da história da igreja, novos movimentos para corrigir a direção sempre surgiram dentro dela mesma.