sábado, 11 de junho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1512 Michelangelo completa a cúpula da Capela Sistina

Quando olhamos para a cúpula da Capela Sistina, imagens humanas maiores do que o tamanho real parecem se projetar para baixo, trazendo à vida, de maneira brilhante, nove cenas do livro do Gênesis, sete profetas hebreus e cinco sibilas, profetisas pagas que supostamente predisseram a vinda do Messias. 



Logo no primeiro vislumbre dessa obra, é possível verificar que ela é totalmente diferente da arte do mundo medieval.

A arte espiritual, mas, muitas vezes, estilizada e irreal da Idade Média, cedeu sua vez a um novo realismo que fazia maior uso da perspectiva e do conhecimento da anatomia.

A nova arte, no entanto, refletia mudanças mais profundas do pensamento, que alteraram permanentemente o mundo cristão.

O Renascimento começou a ganhar espaço na Europa durante os séculos XV e XVI. 

O poeta cristão Petrarca descobrira antigos manuscritos latinos e popularizou o estudo deles. 

A partir disso, surgiu o humanismo, que buscava estudar os clássicos e aplicar seus princípios à vida. 

De maneira lenta, mas veemente, começou a ser dada maior ênfase ao homem, à sua habilidade de pensar e às suas ações. 

Embora o cristianismo ainda exercesse grande impacto sobre o pensamento humano, o mundo foi vagarosamente se distanciando do modo de vida centrado na igreja.

Como muitas figuras proeminentes do Renascimento, Michelangelo Buonarroti amealhou conhecimento diversificado. 

Escreveu maravilhosos poemas e se tornou um artista, escritor e arquiteto talentoso. 

Sob o patrocínio dos papas Júlio II, Leão X, Clemente VII e Paulo III, criou pinturas e esculturas magníficas, que refletiam o espírito de sua era.

Sob Júlio o, Michelangelo aceitou o projeto de pintar a cúpula de uma das capelas particulares do papa, a Capela Sistina. 


De 1508 a 1512, ele criou os magníficos aíreseos de homens e mulheres de carne e osso, que pareciam ser capazes de assumir vida por iniciativa própria. 

O realismo com que retratava as histórias bíblicas é estranho à arte medieval. 

A despeito dos temas espirituais, essas pessoas pareciam mais deste mundo do que do mundo espiritual.

Em 1534, Michelangelo voltaria à Capela Sistina para pintar a parede do altar. 

O Juízo Universal retrata um Cristo vigoroso. 

Há grandes figuras dos salvos, que se levantam, e dos que estão destinados à queda, que se mostram tristes por serem incapazes de alterar seu fim. 

Quando o papa Paulo III viu a obra pela primeira vez, orou, atordoado: “Senhor, não imputes a mim o meu pecado quando chegar o Dia do Juízo”.

Embora provavelmente seja mais conhecido por suas pinturas, Michelangelo não se considerava, fundamentalmente, um pintor. 

Seu primeiro amor era a escultura, na qual ele se sobressaiu, como podemos observar por sua magnífica estátua do jovem Davi; pela delicada Pietá, que retrata Maria com o filho sacrificado; e pelo justo e irado Moisés.

A medida que o homem se tornava cada vez mais o padrão de todas as coisas e do mesmo modo que a Reforma desafiava a autoridade da Igreja Católica, a influência do humanismo aumentava. Contudo, ele começou com os cristãos, e a maior parte dos humanistas permaneceu na fé.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.


1478 O estabelecimento da Inquisição espanhola

Já em seus primeiros dias, a igreja enfrentou problemas relacionados às falsas crenças — as chamadas heresias — e precisou lidar com elas.



Com o crescimento das heresias populares — em especial a do movimento albigense na França —, a igreja adotou medidas mais severas. 

No IV Concilio de Latrão, o papa Inocencio III estabeleceu a punição dos hereges pelo Estado, permitindo até o confisco de suas propriedades. 

As autoridades seculares que não fizessem esse favor à igreja arriscavam-se também a ser excomungadas.

A Inquisição, no entanto, só se organizou plenamente no Sínodo de Toulouse, em 1229. 

Em resposta à leitura bíblica feita pelos cataros — grupo étnico que assimilara muitos equívocos do maniqueísmo — e dos valdenses, esse sínodo proibiu os leigos de possuir as Escrituras e começou a atacar sistematicamente crenças consideradas inaceitáveis. 

O papa Gregorio IX deu aos frades dominicanos o poder de defender a ortodoxia. 

Os dominicanos, sujeitos somente à autoridade do papa, tornaram-se poderosa arma do arsenal hierárquico da igreja.

Em 1252, o papa Inocencio iv autorizou a tortura como meio de conseguir informação e a confissão nos casos de heresia. 

Ele acreditava que a heresia era um “membro podre” que precisava ser amputado, caso contrário contaminaria todo o corpo. 

A crueldade perpetrada contra os hereges parecia um preço pequeno a ser pago na defesa da ortodoxia da igreja.

Ainda assim, a igreja não poderia derramar sangue e, por essa razão, entregava todos os hereges ao Estado para que fossem executados. 

Eles normalmente eram queimados em fogueiras.

Os governadores espanhóis do final do século xv, o rei Fernando e a rainha Isabel, acreditavam que seu país só prosperaria quando fosse verdadeiramente cristão. 

Pelo fato de mostrar grande devoção ao catolicismo, os monarcas receberam do papa o título de “Reis Católicos”. 

Em 1478, pediram ao papa que estabelecesse a Inquisição na Espanha, e eles mesmos seriam os inquisidores.

Muitos judeus e muçulmanos da Espanha aparentemente se converteram ao cristianismo, mas sempre houve desconfiança de que estivessem praticando secretamente sua antiga fé. 

Em 1492, os reis católicos expulsaram todos eles de seu país.

Tomás de Torquemada, frei dominicano cujo nome se tornaria sinônimo de crueldade, foi o inquisidor geral da Espanha. Embora parecesse um cristão modelo na vida particular, pois era devoto e negava-se a si mesmo, esse homem letrado levava seu zelo a extremos. 

Sob sua direção, muitas pessoas foram levadas à fogueira, ao passo que outros pagavam pesadas multas ou sofriam penas humilhantes.

Como a Inquisição tinha o poder de confiscar os pertences dos condenados, ela nunca ficou sem dinheiro para continuar suas perseguições. 

Ela também vendia a atividade de “familiar”, que transformava a pessoa em uma espécie de informante, que desfrutava liberdade, pois, em troca da informação, o delator não era preso.

Embora o protestantismo estivesse se espalhando rapidamente pela Europa, na Espanha ele caiu sob a forte mão da Inquisição. 

Ali, os livros protestantes foram banidos e bastava a simples suspeita de que alguém era protestante para que os inquisidores fossem chamados. 

Embora poucos protestantes executados fossem espanhóis, a lição ensinada pelo martírio dessas pessoas foi suficiente para que muitos se voltassem para a Igreja Católica.

Como resultado, o protestantismo nunca progrediu na Espanha, como aconteceu em outros países. 

Embora os protestantes também enfrentassem perseguição no restante da Europa, ela não tinha a mesma fúria da Inquisição espanhola, que durou até o século xix.


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1456 João Gutenberg produz a primeira Bíblia impressa

Durante a Idade Média, apenas poucas pessoas possuíam a Bíblia ou livros de qualquer tipo. 



Os monges copiavam os textos à mão, em folhas de papiro ou em pergaminhos feitos de peles de animais. 

O custo desses materiais e a remuneração do tempo utilizado pelos copistas estavam muito além das posses do homem comum, mesmo quando o livro que determinada pessoa quisesse ler estivesse ao seu alcance.

Não havia muitas pessoas que conseguiam ler na própria língua, e muitos livros — incluindo-se a Bíblia — estavam disponíveis apenas em latim, língua que um número ainda menor de pessoas compreendia. 

O povo comum confiava no sacerdote local e nos desenhos ou nas imagens da igreja para obter informação sobre a Bíblia. 

O sacerdote local, com freqüência, tinha pouco ou nenhum treinamento em latim, e seu conhecimento da Bíblia era bastante precário. 

Embora os estudiosos debatessem sobre as Escrituras e escrevessem comentários, seus pensamentos dificilmente chegavam até o cristão comum.

Uma das maiores mudanças do século xv teve enorme impacto sobre essa situação. 

Na década de 1440, João Gutenberg experimentou a impressão com tipos móveis de metal. 

Ao montar um livro com tipos de chumbo, ele podia fazer muitas cópias a um custo muito inferior ao de um texto copiado à mão.

Em 1456, Gutenberg — ou um grupo do qual ele fazia parte — imprimiu duzentas cópias da Vulgata, a Bíblia latina, revisada por Jerónimo. 

O homem comum não podia ainda compreender a Palavra de Deus, mas esse foi o primeiro passo de uma enorme revolução.

Durante algum tempo, os impres-sores de Mainz guardaram segredo sobre as técnicas de Gutenberg, mas, em 1483, quando Martinho Lutero nasceu, todos os grandes países da Europa já tinham pelo menos uma máquina de impressão. 

No espaço de cinqüenta anos, desde a primeira impressão da Bíblia de Gutenberg, os impressores já haviam ultrapassado a quantidade de material que os monges produziram em vários séculos. 

Os livros passaram a ser disponibilizados em diversas línguas, e houve um aumento do número de pessoas que sabiam ler e escrever.

Sem a invenção de Gutenberg, talvez os objetivos da Reforma tivessem levado mais tempo para ser alcançados. 


Uma vez que apenas o clero podia ler a Palavra de Deus e compará-la aos ensinamentos da igreja, a Bíblia tinha um impacto limitado sobre o cristão comum.

Com a invenção da máquina de impressão, Lutero e os outros reformadores poderiam fazer com que a Palavra de Deus ficasse disponível “a todo jovem do campo e a qualquer empregada doméstica”. 

Lutero traduziu as Escrituras para um alemão bastante eficaz e de fácil leitura, usado durante vários séculos. 

A partir do momento em que todos tiveram acesso à Bíblia, nenhum sacerdote, papa ou concilio se colocava entre o cristão e sua compreensão da Bíblia. 

Embora muitos afirmassem que o homem comum poderia não compreender a Palavra de Deus e talvez precisasse que ela fosse interpretada pelos clérigos, os alemães começaram a fazer exatamente isso.

Conforme liam, esses homens e mulheres comuns começaram a se sentir parte do maravilhoso mundo da Bíblia. 

O ensinamento da Bíblia em casa tornou-se possível. Lentamente, a barreira entre o pastor e o membro da igreja foi destruída. 

Em vez de se preocupar com o pensamento “O que tenho de confessar ao sacerdote?”, o crente podia perguntar: “Será que a minha vida está de acordo com a Palavra de Deus?”.

Com a invenção de uma complexa ferramenta de impressão, um fogo foi aceso por toda a Europa, uma chama que espalhou tanto o evangelho quanto a instrução.

Com bastante freqüência, isso assumiu a forma de troca de idéias teológicas e o afastamento dos grupos heréticos da igreja. 

Porém, a igreja — que ainda não fora capaz de alçar vôo — não poderia impor qualquer sistema de fé aos que estavam no erro.

Em 1184, o papa Lúcio in, preocupado com o sistema de crenças dos frequentadores da igreja, pediu que todos os bispos “inquirissem” sobre as crenças de seu rebanho. 

Um homem que fosse culpado de heresia seria excomungado, ou seja, colocado para fora da igreja. Contudo, não deveria ser punido fisicamente e, caso se retratasse de sua heresia, seria readmitido à igreja. 

Teoricamente, a igreja usou esse instrumento tanto para corrigir de maneira amorosa um irmão que estava equivocado quanto para proteger os outros desse erro.

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1380 Wycliffe supervisiona a tradução da Bíblia para o inglês


“Uma figura alta e delgada, coberta com uma longa toga negra […] a face, adornada com uma comprida barba; ele tinha traços fortes e bem nítidos; os olhos eram claros e penetrantes; os lábios firmemente fechados, um sinal de sua resolução.”


Assim, João Wycliffe apresentou-se diante do bispo de Londres, em 1377, para responder à acusação de heresia. 

Seu amigo e defensor, João de Gaunt, duque de Lancaster, adentrou pela igreja com passos firmes e resolutos. 

Um simples detalhe, se Wycliffe deveria ficar em pé ou sentado, tornou-se discussão. 

Esse pequeno detalhe chegou a se transformar em uma briga calorosa, e João de Gaunt fugiu para preservar sua vida. 

Podemos imaginar a cena, Wycliffe sendo despachado por seus próprios amigos. Assim foi sua vida. 

Wycliffe era ousado e franco quanto à sua teologia e à sua educação. 

Contudo, quando se encaminhou para a política, ficou preso no meio do fogo cruzado da luta de outras pessoas.

João Wycliffe foi o principal erudito de sua época. 

As pessoas, por toda a Inglaterra, respeitavam sua sabedoria. 

A educação universitária era ainda um fenômeno relativamente novo, e Wycliffe pode ser grandemente responsabilizado pela grande reputação de Oxford, onde estudou e lecionou.

Sua vida, porém, foi marcada pela controvérsia. 

Tinha o perigoso hábito de dizer o que pensava. 

Quando seus estudos o levaram a questionar os ensinamentos católicos oficiais, ele realmente o fez. 

Questionou o direito de a igreja ter poder temporal e de possuir riqueza. 

Discutiu a venda de indulgências — cartas que, de modo geral, eram consideradas um meio para perdoar os pecados —, o cerimonial da igreja, a adoração supersticiosa de santos e de relíquias, assim como a autoridade do papa. 

Ele até mesmo questionou a visão oficial da eucaristia (a doutrina da transubstanciação) defendida pelo IV Concilio de Latrão. 

Apresentava-se, com freqüência, diante de bispos e de concilios para defender essas idéias, e outros posicionamentos que advogava.

A Inglaterra tinha muito ressentimento contra a Igreja Romana, mesmo no século xiii. 

A liderança secular era forte na Grã-Bretanha. Os príncipes — e muitos cidadãos — se ressentiam da maneira como a igreja estava apegada ao poder e à riqueza. João de Gaunt, muitas vezes, usava as idéias e a reputação de Wycliffe em suas discussões com a igreja. 
Como recompensa, ele protegia Wycliffe da hierarquia eclesiástica.

Wycliffe foi um herói popular durante algum tempo. 

Seus seguidores, os lolardos — sacerdotes que seguiam a pobreza apostólica e ensinavam as Escrituras às pessoas comuns — viajavam por toda a Inglaterra levando o Evangelho. 

Conforme sua influência declinou, porém, Wycliffe tornou-se cada vez menos útil a seus benfei-tores, inclusive para Lancaster. 

Uma audiência tumultuada em 1377 resultou no banimento de seus escritos. 

A oposição se intensificou. 

Apesar de ser poupado da violência, seus textos foram queimados, e ele foi destituído da posição que tinha em Oxford, ficando proibido de disseminar suas idéias.

Isso deu a ele tempo para trabalhar na tradução da Bíblia.

Wycliffe defendia a idéia de que todo o mundo deveria poder ler as Escrituras na própria língua. 

“Visto que a Bíblia contém Cristo — tudo o que é necessário para a salvação —, ela é necessária para todos os homens, e não apenas para os sacerdotes”, escreveu ele. 

Assim, a despeito da reprovação da igreja, juntou-se a outros estudiosos para produzir a primeira tradução completa da Bíblia para o inglês. 

Usando uma cópia manuscrita da Vulgata, Wycliffe trabalhou arduamente para tornar as Escrituras inteligíveis para seus compatriotas. 

Uma primeira edição foi publicada. 

Ela foi aprimorada na segunda edição, que só ficou completa após a morte de Wycliffe. 

Apesar disso, essa edição ficou conhecida por Bíblia de Wycliffe e foi distribuída, ilegalmente, pelos lolardos.

Wycliffe sofreu um derrame quando estava na igreja e morreu em 31 de dezembro de 1384. 

O Concilio de Constança, 31 anos mais tarde, o excomungou, e, em 1428, seus ossos foram exumados e queimados, e as cinzas, espalhadas no rio Swift.

Ninguém poderia imaginar que suas idéias se espalhariam tão rapidamente pela Europa. 

O efeito de seus ensinamentos sobre os líderes posteriores, como João Hus, fez com que ficasse conhecido por a “Estrela da manhã da Reforma”. 

Ele próprio procurou permanecer na Igreja Romana por toda sua vida, mas no coração e na mente de seus ouvintes, a Reforma já estava a caminho.