segunda-feira, 11 de julho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1675 Philip Jacob Spener publica Pia Desideria

Na parte final do século xvn, a Igreja Luterana abandonara de certo modo sua ênfase na fé pessoal, para enfatizar o anseio pela doutrina correta. 

Um pastor desafiaria essa situação com um pequeno livro que mudou o protestantismo.


Em seus estudos na universidade de Estrasburgo, Philip Jacob Spener aprendeu as línguas bíblicas, doutrina e história, disciplinas que geralmente faziam parte do curso normal requerido para o ministério. 

Porém, seus professores também colocaram na mente daquele jovem o anseio pelo renascimento espiritual e pela ética cristã. 

Spener descobriu a necessidade de aplicar a erudição à experiência pessoal. Nenhuma religião formal terá qualquer conseqüência a não ser que a pessoa nasça de novo.

O novo ministro enfrentou muita controvérsia por pregar contra o ócio e a imoralidade, assim como por tentar fazer com que sua congregação praticasse o cristianismo pessoal. 

O clero da Igreja Luterana via a si mesmo como o centro da igreja e sentiu-se ameaçado com a mudança rumo ao individualismo que essa pregação incentivava.

Spener passou a promover reuniões devocionais, conhecidas como collegia pietatis, que viriam a formar a base do movimento do pietismo.

Esse pastor luterano escreveu suas idéias sobre a Reforma, além de pregar em seu púlpito, em Frankfurt, e de formar os grupos locais. 

Em 1675, publicou a Pia desideria [Desejos piedosos], obra que apresentava seu plano de seis pontos.

Primeiramente, ele queria que os cristãos tivessem compreensão das Escrituras que fosse mais profunda e que afetasse mais a vida comum. 

Para alcançar esse objetivo, ele sugeriu a implementação de reuniões de pequenos grupos nas casas. 

Os clérigos do século XVII achavam que isso era utópico e que se tratava de uma idéia potencialmente ameaçadora.

Spener queria que a igreja levasse a sério o sacerdócio de todos crentes, de modo que sugeriu que os leigos assumissem certas responsabilidades dentro dos collegia pietatis. 

Embora o pastor fosse importante, não deveria ser o único responsável por carregar o fardo do alimento espiritual.

Opondo-se ao temor de sua época, ou seja, de que o individualismo poderia trazer problemas, Spener defendia que a igreja deveria enfatizar a experiência pessoal. 

Ele percebeu que ter apenas a doutrina correta levaria a uma fé morta.

Aprendendo com a Guerra dos Trinta Anos, que já provara os perigos das controvérsias religiosas, Spener buscou evitar o conflito teológico. 

Se fossem inevitáveis, os debates deveriam ser promovidos em um espírito de amor, mas insistia em que as pessoas se restringissem às questões essenciais da fé e não causassem confusão devido aos itens de menor importância. 

Ele dizia que era melhor orar pela pessoa que estava no erro do que gritar com ela.

Spener dizia que os pastores deveriam não apenas aprender sobre a Bíblia e a teologia, mas também deveriam saber como lidar com os leigos. 

O pastor que não pudesse expressar uma vida de devoção não poderia liderar sua congregação rumo a esse objetivo.

Ele também encorajou os pastores a proferir sermões que aplicassem as Escrituras à vida cotidiana. 

Eles deveriam inspirar e informar, ser inteligíveis e promover a elevação espiritual. 

Em vez de simplesmente fazer um discurso, os pastores precisavam inspirar o povo de Deus.

Devido ao grande furor que as idéias de Spener causaram, ele teve de mudar-se de Frankfurt para Dresden e depois para Berlim. 

Em 1694, já em Berlim, ele e August Francke fundaram a Universidade de Halle. 

Sob a liderança de Francke, a universidade se tornou um centro de evan-gelismo e de missões. 

Muitos anos depois de a Igreja Católica ter levado missionários para a Ásia e a América, as missões protestantes começaram em Halle, com um centro de estudos para que as línguas orientais e tradução da Bíblia fossem estudadas.

Embora o clero visse apenas grandes ameaças no programa de Spener quanto à reforma, ele trouxe alegria aos leigos. 

Nas igrejas que adotaram seus ensinamentos, a vida familiar foi melhorada, os padrões morais foram elevados e as pessoas aprenderam que o cristianismo significava muito mais do que simplesmente concordar com um catecismo. 
As reuniões de pequenos grupos encorajavam um sentimento familiar na congregação e a Bíblia se transformou em algo cheio de vida para os crentes.

Lutero enfatizara a importância do canto congregacional, mas seu uso estava enfraquecido. 

O pietismo deu um grande impulso à hinologia, e compositores como Paul Gerhardt, Joachim Neander e Gerhardt Tersteegen produziram hinos que, mais tarde, seriam traduzidos e incorporados’ aos binarios metodistas de língua inglesa.

Influenciadas pelo fervor do pietismo, muitas igrejas desenvolveram o estudo bíblico e os grupos de oração, ultrapassando o que seu fundador idealizara. 

Os aspectos práticos do pietismo — a ênfase no sentimento e na propagação do cristianismo — tiveram conseqüências de grande projeção e foram particularmente influentes no desenvolvimento do cristianismo americano.

sábado, 9 de julho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.



1662 Rembrandt pinta O retorno do filho pródigo

A irretocável arte de O retorno do filho pródigo foi criada por um homem que sabia o que era ser pródigo e que mostrou pela sua arte quão profundamente o mundo precisava de salvação. 



Rembrandt Harmenszoon van Rijn tornou-se o maior pintor protestante, uma pessoa na qual a fé e a arte estavam perfeitamente combinadas.

Ele nasceu em uma família reformada, profundamente piedosa. Embora seus pais quisessem que se tornasse um estudioso, era bastante evidente que ele tinha uma inclinação natural pela arte. 

Seguindo o costume daqueles dias, Rembrandt passou a seguir artistas famosos e a aprendeu a pintar histórias bíblicas e acontecimentos de histórias referentes à mitologia grega e romana.

Porém, a arte que desenvolveu como estilo pessoal era muito diferente. 

Outros protestantes confinavam suas pinturas religiosas a quadros que relatavam a Bíblia, e os artistas católicos retratavam os santos. 

Rembrandt, porém, fazia de cada uma de suas pinturas uma declaração de fé. 

Ao passo que os protestantes afirmavam que somente a Bíblia era a norma para a religiosidade do homem, Rembrandt mostrou que as Escrituras poderiam também ser o padrão para a arte religiosa.

Nos dias de Rembrandt, as pessoas retratadas nas pinturas bíblicas se pareciam com super-heróis, pouco distintas dos deuses e semideuses retratados nas pinturas mitológicas. Isso não acontecia com os quadros de Rembrandt. 

Ele mostrava a humanidade como ela realmente era: cheia de cicatrizes, pecaminosa e carecendo de redenção. 
Homens e mulheres reais povoam sua obra, desde sua esposa e filho até mesmo as pessoas das ruas. 

Rembrandt tomou como base para um tocante retrato de um rei de Israel um mendigo de aspecto deplorável, que ele vestira com um turbante. 


Um judeu idoso e simples se transformou em um retrato do apóstolo Paulo.

Rembrandt também usou a si mesmo como modelo. 

Na obra O levantar da cruz, que retrata a pecaminosidade do homem, o pintor é um personagem que ajuda a crucificar a Cristo. 

Embora tenha criado o retrato, o artista não pôde fugir da necessidade de salvação pessoal.

A técnica do claro-escuro — na qual um fundo escuro contrasta grandemente com a luz brilhante sobre os personagens — é marca registrada da obra de Rembrandt. 

A profundidade da escuridão física muitas vezes mostra com clareza a luz espiritual interior nos personagens que retratava.

Contudo, o objetivo principal de Rembrandt não era evangelizar. 

Vivia da venda de suas obras e fez tanto trabalhos espirituais quanto seculares. 

Entretanto, até mesmo aquelas peças que não tinham o objetivo de retratar uma cena religiosa carregavam dentro de si o sentido da perspectiva que o artista tinha sobre o mundo e sobre a humanidade. 

Ele via a beleza da criação de Deus na natureza, percebendo tanto a beleza quanto o pecado nas faces humanas diante dele.

A despeito da aparente firmeza de convicções cristãs de suas obras, Rembrandt não teve uma vida tão impecável. 
Ele se casou com Saskia, mulher jovem e rica que morreu em 1642. 

Seu testamento afirmava que, se Rembrandt se casasse novamente, todas as suas posses seriam entregues ao filho deles, Tito. 

Cercado de problemas financeiros, o artista certamente percebeu que não poderia abdicar do dinheiro dela. 

É por isso que ele manteve Hendrickje, sua empregada, como uma espécie de concubina.

Rembrandt presenteou diversas gerações com uma pintura protestante bastante singular do mundo de Deus. 

Calvino afirmou: “Somente devemos pintar o que os olhos são capazes de ver”. 

Os olhos de Rembrandt criaram retratos que comunicavam a verdade. 

O retorno do filho pródigo mostra a humanidade de Rembrandt, seu amor por detalhes e a aguçada percepção do coração humano. 

O pai perdoador, o filho penitente e o irmão mais velho, vestidos em roupas do século XVII, encaixam-se perfeitamente na parábola de Jesus. 

Ele nos faz lembrar a infinitude e a atemporalidade das Escrituras.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1648 George Fox funda a Sociedade dos Amigos

O século XVII foi uma época de mudança religiosa e de crescente liberdade, ainda que de forma bastante lenta. 
Em lugar de uma igreja “universal”, muitas denominações se desenvolveram. 



A Reforma ensinou que apenas a Bíblia poderia conduzir à fé, mas qual interpretação dela os cristãos deveriam aceitar? Havia muitas diferenças, todas em nome das Escrituras.

Os puritanos rejeitavam a Igreja da Inglaterra, que não se encaixava em sua compreensão das Escrituras, mas, apesar de não gostarem do sacerdócio anglicano, também não se afastaram dele.

George Fox, o fundador da Sociedade dos Amigos — ou quaeres — realmente rompeu com o clero.

Como muitos outros, George Fox não encontrava conforto na religião formal de sua era. 

No entender de Fox, até mesmo os grupos separatistas ou os presbiterianos independentes eram revestidos de muita formalidade. 

Ele acreditava que esses grupos fizeram concessões ao governo — a igreja se tornara uma espécie de servidor público que se afastara de Deus.

Em sua busca por paz espiritual, Fox procurou muitos conselheiros, mas nenhum deles parecia capaz de ajudá-lo. 
Certo dia, em 1647, ouviu uma voz que lhe disse: “Existe um, igual a Jesus Cristo, que pode falar a ti”. 

Isso provocou uma grande mudança na vida de Fox que, dali em diante, dedicou-se a seguir a luz interior que Deus dera a ele e a todos que seguiam a Deus. Todos os cristãos — todos os amigos de Jesus — tinham acesso imediato a Deus. 

Fox ensinava que, ao seguir a luz que Deus dera, eles poderiam destruir o poder de Satanás e o fardo do pecado.

O ensinamento simples, mas convincente, de Fox atraiu outras pessoas. 

Os amigos — nome pelo qual chamavam uns aos outros — não faziam votos ou juramentos, vestiam-se de maneira simples, comiam pouco, falavam a verdade, e eram totalmente honestos. 

Eles se opunham à participação nas guerras. Apesar da oposição do governo, protestavam contra o formalismo nos cultos, recusando-se a tirar o chapéu para qualquer homem e não davam contribuições, ou ofertas, à igreja oficial.

Muitas Sociedades de Amigos se espalharam pela Inglaterra enquanto o destemido George Fox pregava. 

Nos lares em que realizavam suas reuniões, os aristocratas e as pessoas comuns adoravam juntos. 

Não existia clero específico algum, e tanto homens quanto mulheres podiam falar conforme se sentissem liderados pelo Espírito.

Ê claro que havia abusos dentro de um grupo que confiava tão fortemente na orientação individual do Espírito Santo, o que fez com que pessoas que antes eram tolerantes para com os amigos se voltassem contra eles. 

A ênfase que os amigos colocavam na liberdade também terminou por causar a oposição do governo.

Fox passou algum tempo na cadeia em razão de seus ensinamentos. 

Quando foi levado diante de um juiz que zombava das crenças do grupo, Fox o advertiu para que “tremesse diante da Palavra de Deus”.

“São vocês que devem tremer, seus quakers” [palavra inglesa que quer dizer “o que treme”], disse o juiz. 

O nome pegou.

Durante o governo de Oliver Cromwell, a tolerância se tornou regra para os diversos grupos que formavam seu exército e compunham sua união política. 

Embora Cromwell admirasse a honestidade e a integridade dos quaeres, ele não estendeu sua tolerância àquele grupo. 

Apesar de a perseguição ser menor do que aquela que fora promovida pelos reis, essa fé individualista que buscava liberdade não podia ser permitida diante de um líder da qualidade de Oliver Cromwell.

A despeito da perseguição, os quaeres cresceram, especialmente porque muitos sentiam o apelo de uma fé que enfatizava que o indivíduo deveria ter uma experiência com Cristo.
A serviço do rei,  Pr. João Nunes Machado

domingo, 3 de julho de 2022

Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo.

1646 A Confissão de fé de Westminster

Nem todos na Inglaterra aprovavam a igreja estatal. 

Desde o início muitas pessoas viam o anglicanismo como um sistema que não penetrara profundamente nas doutrinas reformadas. 



A rainha Elisabete I aprovara Os trinta e nove artigos de religião em 1563, estabelecendo uma igreja episcopal inglesa. 

Desde o início, os puritanos estavam tentando impor a forma presbiteriana de governo e de cultos menos ritualísticos, mas seus pedidos foram totalmente ignorados.

Os reis da casa de Stuart — Tiago I e seu filho, Carlos I — procuraram aumentar o poder do sistema episcopal. 
Carlos, que queria a uniformidade tanto na Escócia quanto na Inglaterra, tentou impingir o anglicanismo sobre os escoceses presbiterianos. 

Essa situação volátil, tratada de maneira desajeitada, levou ao início da guerra civil inglesa.

Carlos ι teve uma longa história de batalhas com o Parlamento. 

Na primavera de 1640, convocou um parlamento que se opôs vigorosamente a ele, levando-o a dissolvê-lo rapidamente, apenas para convocar outro no outono do mesmo ano. 

O Parlamento Longo, outrora puritano, seria o motivo de sua queda.

Dois anos depois, diante do mesmo parlamento, o rei tentou prender alguns membros da Câmara dos Comuns que se opunham a ele. 

Sua acusação de que aqueles homens tinham cometido traição foi a fagulha que deu início à guerra, que levou a Inglaterra ao puritanismo por alguns anos.

Logo no início de 1643, o Parlamento aboliu o sistema episcopal. 

Para colocar uma igreja presbiteriana em seu lugar, uma assembléia foi convocada na abadia de Westminster. 

Um total de 121 ministros e 30 leigos — alguns dos quais eram escoceses — se reuniu para reconstruir a igreja inglesa.

Durante os seis anos em que a Assembléia de Westminster se reuniu, Oliver Cromwell, o líder do exército do Parlamento, levou os puritanos ao poder. 

O rei seria decapitado em 1649.

A Assembléia de Westminster criou a Confissão de fé de Westminster (1646), um clássico do pensamento presbiteriano, assim como o Breve catecismo de Westminster (1647) e o Catecismo maior (1648). 

As crenças propagadas neles eram puramente calvinistas.

A Confissão falava sobre a inspiração das Escrituras, declarando que a Bíblia é a única autoridade da fé cristã. 

Em suas línguas originais, as Escrituras foram “inspiradas por Deus e […] se mantiveram puras por todas as eras”. 

A plena certeza da autoridade divina, porém, é “uma obra interior do Espírito Santo”.

A Confissão de fé de Westminster incluiu a doutrina da predestinação, assunto sobre o qual Os trinta e nove artigos de religião se mantiveram em silêncio. 

A confissão afirmava: “Alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna e outros preorde-nadas para a morte eterna”. 

Contudo, “nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura”.

Além disso, ele enfatizava o relacionamento de Deus com seu povo por meio da Aliança. 

A redenção humana é um tipo de equilíbrio entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.

A Confissão defendia o governo dos presbíteros, em vez de deixá-la a cargo de sacerdotes e de bispos, além de não permitir qualquer espaço para a transubstanciação (ao contrário do que fizeram Os trinta e nove artigos). 
Do mesmo modo, determinava a observância do domingo por parte do crente, um dia estritamente dedicado à adoração pessoal e pública.

O puritanismo da Inglaterra, porém, não durou muito. 

Em 1658, com a morte de Oliver Cromwell, nenhum líder forte se levantou do lado puritano. 

Embora tivesse assumido o lugar de seu pai como Protetor da Inglaterra, Richard, o filho de Cromwell, não tinha as habilidades de liderança de seu pai. 

Richard afastou-se de maneira digna, e a Inglaterra voltou à monarquia sob o reinado de Carlos II, filho de Carlos I.

O novo rei conseguiu restaurar de maneira bem-sucedida o episcopado na Inglaterra. 

Os escoceses, no entanto, se apegaram à Confissão de fé de Westminster, fazendo com que ela se vinculasse à Igreja da Escócia. 

Por intermédio da Escócia, a palavra Westminster se transformou em sinônimo de “calvinismo histórico”.